Maracatu e o Tiro Certeiro do Manguebeat. Discos de Vinil, Rios, Pontes e Overdrives
O Manguebeat entrou para a história da música nacional e vem desde os anos 90 influenciando bandas, artistas e apreciadores.
Encabeçado por Chico Science da Nação Zumbi e Fred Zero Quatro da Mundo Livre SA, o Manguebeat resgatou aquela que era a quarta pior cidade do mundo, e a colocou de volta no topo do mundo. Mesmo que esse “topo” de mundo signifique o resgate das culturas populares, a valorização do sotaque e das raízes e a mescla do tradicional com o pop contemporâneo.
Manguebeat era uma questão emergencial. Ou ele se fincava fortemente naquela lama, ou Recife morreria de infarto:
“Emergência! Um choque rápido ou o Recife morre de infarto! Não é preciso ser médico para saber que a maneira mais simples de parar o coração de um sujeito é obstruindo as suas veias. O modo mais rápido, também, de infartar e esvaziar a alma de uma cidade como o Recife é matar os seus rios e aterrar os seus estuários. O que fazer para não afundar na depressão crônica que paralisa os cidadãos? Como devolver o ânimo, deslobotomizar e recarregar as baterias da cidade? Simples! Basta injetar um pouco de energia na lama e estimular o que ainda resta de fertilidade nas veias do Recife”.
Recife de veias abertas e na linha tênue entre o entupimento podre e a fluidez da arte, subversão e resistência do mangue. Pareceu resistir!
Com o manifesto Caranguejos com Cérebro, Fred Zero Quatro adiantou o que seria esse movimento no manguetown.
Quer saber mais sobre as obras produzidas no Recife dos anos 90, e qual o legado para os anos posteriores? Confira a lista abaixo dos discos e das bandas do mangue.
Da Lama ao Caos – 1994
“Essa música fala da paixão de uma pescador marginal por uma lavadeira”- É o que a voz de Chico registra no coração fervoroso de quem sai da lama diretamente ao caos, e depois volta em direção à maloca, na beira do rio.
O primeiro álbum de Chico Science e Nação Zumbi foi lançado em 1994 e marca o divisor de águas entre o antes e o depois do Manguebeat.
Um clássico dos anos 90, década que por vezes foi considerada como “perdida”, Da Lama aos Caos leva o Maracatu pernambucano pro mundo, e traz o rock, o hip hop e a cultura pop pra Pernambuco.
Quase impossível destacar músicas desse álbum, mas, sem dúvidas, “A Praieira” não nos deixa mentir sobre o valor dessa obra e seu alcance no Brasil todo.
O homem coletivo sente a necessidade de lutar. Eis o Manguebeat!
Afrociberdelia – 1996
Segundo disco da banda foi lançado um ano antes do trágico falecimento de Chico. O disco vem para reforçar a revolução iniciada por Nação e Mundo Livre. Afrociberdelia reafirma a condição inovadora do Manguebeat.
O resgate das tradições pode ser exemplificada por “Maracatu Atômico”, música conhecida e eternizada na voz de Chico, mas de autoria de Jorge Mauter, e gravada por tantos outros grandes artistas, como Gilberto Gil, por exemplo.
Maracatu Atômico se transformou em um hino e pode ser considerado a síntese do movimento que resgata a tradição e a moderniza e dissemina.
Afrociberdelia vem para, uma vez por todas, afirmar que:
“Maracatu psicodélico
Capoeira da Pesada
Bumba meu rádio
Berimbau elétrico
Frevo, Samba e Cores
Cores unidas e alegria
NADA DE ERRADO EM NOSSA ETNIA”
Fome de Tudo – 2007
Fome de Tudo é um importante marco pra banda na era pós Chico. É nesse disco que Jorge Du Peixe concretiza seu vocal e se mostra completamente pronto pra essa responsabilidade. O movimento Manguebeat já foi considerado extinto por muito críticos, e a Nação também já despertou dúvidas de muitos por não ter mais Science entre eles. Fome de Tudo afirmou exatamente o contrário, A Nação vive e está faminta!
Com um som com pegadas mais dentro do Rock e do Rap, mas sem deixar as origens do Maracatu de fora, Fome de Tudo reinventa a Nação, o que, de alguma forma, não chega a ser uma novidade, já que essa é uma essência da banda.
“Sem leite nem pra pingar no expresso do dia”
Nação Zumbi – 2014
Depois de 7 anos sem lançar nada inédito, em 2014 a Nação nos presenteia com um disco que, como em “Bala Perdida”, é um verdadeiro tiro.Com letras fortes e sonoridade cortante, esse álbum mostra a maturidade dos integrantes da banda e que a Nação resiste e ainda tem muito a produzir.
Com a música “A Melhor Hora na Praia” o disco confirma a intenção de tocar o ouvinte, principalmente pela escolha de parceria com Marisa Monte, uma das mais belas vozes da atualidade da música brasileira.
O lançamento de 2014 pode ser resumido com a música Cicatriz: “Quando fica a cicatriz, fica difícil esquecer. Visível marca de um riscado inesperado pra lembrar o que aconteceu […] Mas essa daqui me traz uma boa lembrança, não vou mais esquecer”.
Samba Esquema Noise – 1994
O álbum é irmão de “Da Lama ao Caos”. Nascidos em 1994, são os concretizadores do Manifesto Manguebeat. A primeira música do disco já mostra “o que te aguarda” e a característica futurista da Mundo Livre – A Eletricidade Alimenta!!
Formada originalmente por Fred Zero Quatro, Fábio Goró, Bactéria, Xef Tony e Otto, a banda teve sua obra como uma das melhores dos anos 90. A produção tem uma mistura de Rock, Samba, Punk e os ritmos regionais que marcaram a geração manguebeat.
O Desafio da Bilesky é o disco Mundo Livre SA Vs. Nação Zumbi. Mundo Livre interpreta Nação, e Nação interpreta Mundo Livre. Grandes sucessos nas mãos de outros grandes sucessos. E aí?!
Na sua opinião, quem levou a melhor nessa?
Comente abaixo o que acha dos álbuns e qual delas venceu esse duelo do século!
é manguebit
Da lama ao Caos, é uma obra prima eternizada, catalisada pelas ideias da Nação e do saudoso Chico.