Os 10 Maiores Discos da Música Brasileira.
Sem dúvida alguma vivemos em um país que tem uma das maiores diversidades culturais, o que resulta em uma rica possibilidade de mistura, de experimentações, e referências que dão origem a grandes obras. Estamos falando de música! Cada região do Brasil tem suas músicas tradicionais, carrega o regionalismo em suas canções, nos conta suas histórias e vivências com belos poemas musicados. Um país de extensão “continental” não pode ser genérico, ele apresenta os mais diversos ritmos. Como nossa paixão aqui é música, e nossa maior referência é nossa origem, vamos reproduzir uma lista com os 10 Maiores Discos da Música Brasileira. A lista original é muito maior, e você pode conferir aqui.
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Vamos à lista:
1- Acabou Chorare (1972) – Novos Baianos
Certamente esse é o disco mais conhecido da banda. Lançado dois anos depois do álbum de estréia, “Acabou Chorare” registra a evolução musical e a personalidade dos Novos Baianos. O Rock e as guitarras continuam presentes, mas, agora sob a influência de João Gilberto, o samba e tantos outros ritmos brasileiros passam a fazer parte da vida e da música do grupo, o que resulta nesse maravilhoso álbum.
Em 2007 “Acabou Chorare” ficou em primeiro lugar na Lista dos 100 maiores discos da Música Brasileira feita pela revista Rolling Stone.
Com 10 faixas, entre entre elas Preta Pretinha, Acabou Chorare, Brasil Pandeiro, Mistério do Planetae a Menina Dança, o álbum“Acabou Chorare” também tem sua reedição em vinil, com capa dupla em uma excelente edição.
2- Tropicália ou Panis et Circencis (1968) – Vários
Poesia concreta, cinema novo, programas de TV, imprensa underground, antropofagia cultural, tudo era válido. Em maio de 1968, começaram as gravações do tal disco-manifesto. Entrou quem se identificava: Tom Zé, Nara Leão, Gal Costa, Os Mutantes, os poetas Capinan e Torquato Neto e o maestro Rogério Duprat – que tomou conta dos arranjos, providenciando instrumentações inusitadas e colagens sonoras. Tropicália ou Panis et Circensestem 12 faixas, disparos certeiros em tudo o que vinha antes, mas que também apontavam para o balaio de gatos que iria tomar conta do Brasil. O manifesto abre com a sintomática “Miserere Nóbis”, de Gil e Capinan. Caetano revive “Coração Materno”, de Vicente Celestino, até então considerada uma pérola da cafonice – aquilo era sério ou não? Os Mutantes se destacam em “Panis et Circenses”, com sua levada barroca, ruídos de gente jantando e final psicodélico. Nara Leão, musa da bossa nova, confunde tudo com o bolero “Lindonéia”. A celebrada “Bat Macumba”, de Caetano e Gil, escancara o lado concretista. Com citação de Roberto Carlos, o grande hit foi “Baby”, cantada por Gal Costa. A capa também causou impacto, mostrando os participantes como uma família nada convencional. A revolução cultural estava formatada no caótico Brasil do recém-decretado AI-5.
3- Construção (1971) – Chico Buarque
Quinto disco de chico Buarque de Hollanda, Construção foi lançado num dos períodos mais sombrios da ditadura militar.O “bom moço” de olhos verdes, já com passado de canções veladamente contundentes como “Pedro Pedreiro”, agora se dispunha a pôr a boca no mundo. Mesmo fazendo uso de metáforas para driblar a temida Censura Federal, Chico ousava mais do que em trabalhos anteriores. Na desafiadora “Deus lhe Pague”, ironizava a servidão ao regime em versos como “Por esse pão pra comer/por esse chão pra dormir/…/Deus lhe Pague”. No dolorido samba “Construção”, relatava a história do homem que, extenuado pela miséria que tinha de enfrentar, trabalhava até a morte. No “Samba de Orly”, parceria com Toquinho e Vinícius de Moraes, falava quase abertamente da questão do exílio. Peso e responsabilidade num dos discos mais importantes da música popular do Brasil.
4- Chega de Saudade (1959) – João Gilberto
De Juazeiro, no norte da Bahia, nosso herói mascou o rádio dos anos 30 e 40 (e não apenas o samba, mas também jazz, músicas tradicionais, conjuntos vocais, samba-canção, música sertaneja, choro, música de fossa e o batuque), traduzindo-o para o resto do mundo como uma sonoridade igualmente sólida, coesa e autoral – que mais tarde chamaríamos apenas de “bossa nova”. Sua grande sacada: reduzir todo o instrumental apenas para seu violão. Esse é um caso à parte. Enigmático, cheio de acordes dissonantes e inusitados, seu violão reinventava a tradição rítmica brasileira ao atrelá-la à harmonia moderna para sempre. Por cima, a voz. Que voz. Nem rompantes de divas de jazz, lamentos dramáticos do samba-canção ou cantos bon vivant dos clones de Sinatra. João canta com a intensidade de quem conversa, calmo e sereno, deixando o som vibrar o mínimo possível. Contou com Jobim na coordenação desse seu primeiro disco quando posicionou estrategicamente as coordenadas de seu novo mapa: seis partes de novos compositores, duas de Ary Barroso e uma de Dorival Caymmi, além de um tema quase religioso e duas quase instrumentais.
5- Secos e Molhados (1973) – Secos e Molhados
O lançamento do primeiro LP do “Secos e Molhados”, que leva o nome do grupo, impressionou o público brasileiro. Era um grupo completamente diferente de tudo o que se conhecia na época. Trazia o incrível Ney Matogrosso nos vocais, letras contra a política dos militares e estilo marcado pela MPB e pelo rock progressivo. Além do conceito visual, traduzido através das máscaras que o quarteto usava e da performance de palco nunca antes visto no Brasil. O álbum já mostrava toda a originalidade de um dos maiores fenômenos da música brasileira e vendeu mais de 300 mil cópias. São oito faixas, sendo sete do compositor e violonista João Ricardo. Fazem parte do disco os sucessos “O Vira”, “Sangue Latino”, “Mulher Barriguda”, “Assim Assado” e uma melancólica versão de “Rosa de Hiroshima” (Gerson Conrad/Vinicius de Moraes) interpretada pela inesquecível voz de Ney Matogrosso.
Sua capa traz uma antológica fotografia de Antônio Carlos Rodrigues na qual as cabeças de quatro dos integrantes são servidas em bandejas. Foi eleita a melhor capa de um disco brasileiro pela Folha de São Paulo em 2001 e é sempre lembrada como tal.
6- A Tábua de Esmeralda (1972) – Jorge Ben
Considerado um dos melhores álbuns de Jorge Ben Jor, “A Tábua de Esmeralda” tem a alquimia como um do as principais e alguns arranjos com efeitos especiais completando o clima cósmico. Nessa época, início dos anos 70, o músico estudava filosofia e teologia, especialmente a obra de Tomás de Aquino, citada em várias faixas,. São dessa fornada o clássico absoluto “Os Alquimistas Estão Chegando os Alquimistas”, “Hermes Trimegisto e sua Celeste Tábua de Esmeralda” e “Errare Humanum Est”. O trabalho gráfico também acompanha o conceito e traz figuras do alquimista Nicolas Flamel. Sempre pregando a felicidade e paz de espírito nas letras e na sua irresistível base (violão, baixo e percussão), Ben Jor manda brasa com seu canto chorado e suingue malandro em outras pérolas do álbum como “O Homem da Gravata Florida”, “O Namorado da Viúva”, “Eu Vou Torcer”, “Menina Mulher da Pele Preta”, “Minha Teimosia, uma Arma pra te Conquistar”, “Magnólia”, “Zumbi”, “Brother” e “Cinco Minutos”.
7- Clube da Esquina (1972) – Milton Nascimento e Lô Borges
Em 1972, Milton, com a carreira em ascensão – já tinha participado de festivais no eixo Rio–São Paulo e gravado três álbuns –, convidou ninguém menos que Lô Borges para juntos dividirem o álbum duplo que seria intitulado Clube da Esquina. O conteúdo sonoro tinha bossa nova, canções com sonoridade beatle, toadas, rock progressivo, choro e jazz, numa miscelânea original e inventiva. O lançamento tornou-se um marco da produção musical brasileira, com criações fora dos moldes tradicionais da prática dominante. Ao mesmo tempo, assumia todo tipo de influência, com harmonias arrojadas, mas diferentes do padrão corrente da MPB. Além de inovar na sonoridade, as letras abordavam temas não muito usuais e faziam uma aproximação com a realidade sul-americana, como a imaginária cidade em “San Vicente”. A propósito, a canção “Nada Será como Antes” era premonitória: depois disso, a MPB não seria mais a mesma.
8- Cartola (1976) – Cartola
A necessidade de proteger a cabeça do cimento que despencava lá de cima, durante o árduo trabalho de operário na construção civil, o forçou a usar um chapéu coco, encontrado no lixo. O apelido, que mais tarde também se tornaria o seu nome artístico, surgiu dali.
Entre sambas antigos e então inéditos, neste álbum, Cartola passeia entre a alegria melancólica e a pura dor, em poemas musicais que parecem ter sido lapidados da maneira mais rústica, autêntica e sofrida possível. Não há otimismo desvairado para alguém que só gravou seu primeiro disco aos 65, dois anos antes. Fosse para selecionar apenas os clássicos, basta dizer que estão ali “As Rosas Não Falam”, “O Mundo É um Moinho” e Preciso Me Encontrar”, de Candeia, em versão definitiva.– –
9- Os Mutantes (1968) – Os Mutantes
Os Mutantes, o primeiro álbum da banda, já havia conquistado o 12° lugar em uma lista dos “50 Discos Mais Experimentais de Todos os Tempos” – duas posições acima de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, e bem à frente de The Piper at the Gates of Dawn, do Pink Floyd. Mais do que os álbuns dos outros artistas do movimento, Os Mutantes segue os preceitos do Tropicalismo à risca, como um segundo volume do manifesto sonoro Tropicália ou Panis et Circensis. “Baby” ganha aqui uma leitura oposta à bossa nova, imbuída em distorções de guitarra e teclados. O maestro Rogério Duprat ajudou o trio nos arranjos e nada faltou: desde a gravação do som ambiente (perfeito na abertura do sambão torto de “Adeus Maria Fulô”) até a manipulação de fitas magnéticas (uma herança da música concreta) em um copia-cola manual. “Panis et Circensis”, que abre o disco, vem com tudo isso. É um perfeito exercício de criatividade musical.
10- Transa (1972) – Caetano Veloso
Gravado em Londres em 1971 e lançado por aqui em 1972, Transa foi o segundo e último disco de Caetano Veloso produzido durante os quase três anos em que esteve exilado na capital inglesa – e o primeiro a ser lançado no Brasil após o seu retorno para casa. Se existe algo de bom a ser extraído de um exílio involuntário, o encontro de um tropicalista com uma cultura estrangeira, in loco, é um bom exemplo. Intercalando letras em inglês (cinco no total) com versos do poeta Gregorio de Mattos (“Triste Bahia”) e um samba de Monsueto de Arnaldo Passos (“Mora na Filosofia”), Transa é autobiográfico até o osso. Fala sobre a sensação de estar sozinho e longe de casa (“You Don’t Know Me”), e de como incorporar o choque cultural com o mínimo de sofrimento, como a citação ao reggae na Portobello Road, em “Nine Out of Ten”, que Caetano já afirmou ser a primeira gravação brasileira a citar os compassos do ritmo caribenho.
Curtiu? Confira os outros 90 discos listados: Os 100 Maiores Discos da Música Brasileira.
Qual deles você tem?
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A capa do álbum de Cartola de 1976 é outra. E esta é do álbum “Verde Que Te Quero Rosa”.
Bela lista!
desses só não tenho cartola . . .
Colocaria o Loki do Arnaldo em primeiro e o primeiro disco dos mutantes em segundo.
Outro erro” o Milton já tinha lançado 4 discos e não 3 como diz ai no Clube da Esquina.
Embora o meu preferido seja Tropicália, seguido Milton e os meninos do Clube da Esquina, o maior álbum da história da Música brasileira é Chega de Saudade. Ao menos 90 dos 100 discos mencionados nesta revista não existiram caso João Gilberto não houvesse gravado este álbum. Aliás, a importância deste álbum para a música é mesma que o primeiro disco dos Beatles ou o belo Thirle de Michael Jackson.
Faltou: Africa Brasil – Jorge Ben Jor
Elis Regina nunca aparece nessas listas…
Bloco do Eu Sozinho – Los Hermanos é um baita disco também. Estaria no meu Top 10.
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