Músicos e autobiografias que desafiam a lei da sobrevivência!
Sabemos que quem gosta mesmo de música, gosta também de saber sobre tudo o que permeia esse universo. O que não exclui, muito pelo contrário, a sede por detalhes até mesmo da vida íntima (às vezes nem tão íntima assim) dos músicos. Principalmente dos caras envolvidos com o rock, e todas as histórias e lendas que envolvem os shows, as criações, viagens, e demais loucuras que coabitam a esfera musical.
Bom, por isso vamos listar aqui algumas autobiografias indispensáveis àqueles que curtem uma vida louca!
Pete Townshend – A Autobiografia
(Globo Livros) Por muito tempo, Pete Townshend foi o músico mais eloquente e lúcido da cena do rock, capaz de escrever textos inspiradores e luminosos. Por isso houve uma certa decepção com a autobiografia do líder do The Who. Claro, quem escreve agora é um senhor de quase 70 anos, não aquele astro do rock jovem e de outras eras. Townshend repassa a vida com pé no freio, mas o livro tem algumas revelações: traz detalhes do abuso sexual que sofreu quando criança e de um breve encontro homoerótico (sem sexo) que o assustou pelo resto da vida. Mas o guitarrista passa muito tempo falando dos carros, mesas de som e propriedades que comprou, e também conta que foi um marido infiel, mesmo sabendo que as mulheres só saiam com ele pela fama que tinha. Drogas e bebidas estão em todo o lugar, e Townshend toca no assunto com imenso complexo de culpa. Pelo menos, é honesto ao relembrar o triste episódio em que foi acusado (e inocentado) de ser consumidor de pedofilia na internet. Pouco é dito sobre os companheiros do The Who e menos ainda dos discos e shows antológicos da banda, mas ele não se cansa de esmiuçar os projetos conceituais confusos dos quais participou, como Lifehouse e Iron Man.
John Taylor – No Ritmo do Prazer, Amor, Morte e Duran Duran
(Benvirá) O baixista do Duran Duran foi uma das mais marcantes e imitadas figuras dos anos 80. No livro, Taylor vai além de contar sua vida. Ao lado do jornalista Tom Sykes, o músico reviveu a essência da mais narcisista década da cultura pop, em que visual, estilo e dinheiro faziam a diferença. Ele fala que a fama foi uma abertura para tudo o que havia de melhor – drogas, festas e garotas. Taylor afirma, e com razão, que em 1984 o Duran Duran era a maior banda do mundo, mas admite que o começo da derrocada ocorreu no ano seguinte. Ele acha que o Festival Live Aid politizou o rock, e com isso o Duran Duran não conseguiu fazer a transição. Depois que a festa dos anos 80 terminou, Taylor se revela feliz em ser um sobrevivente, amadurecido e longe das tentações.
Morrissey – Autobiography
(Penguin/Globo Livros) A polêmica autobiografia do ex-líder do The Smiths ganhará edição nacional daqui a cerca de dois meses pela Globo Livros. O começo é meio maçante: são intermináveis lembranças sobre os dias em que Morrissey encarava professores sádicos e análises dos programas de TV que ele gostava de assistir quando era criança. O livro só esquenta quando o cantor se mete com o glam e com o punk. É muito interessante a parte em que Morrissey descobre o New York Dolls e teoriza sobre o quinteto nova-iorquino. Mas ele pouco celebra o enorme sucesso que obteve com os Smiths e depois na carreira solo: o que sobra mesmo é recriminação, alfinetadas e lavações de roupa suja. Morrissey se revela especialmente rancoroso em relação a Mike Joyce, ex-baterista do Smiths, que conseguiu na Justiça uma boa soma referente aos direitos autorais da banda.
Rod – A Autobiografia
(Globo Livros)Uma das chaves do sucesso de Rod Stewart é que ele não se leva a sério. Mesmo com os notáveis álbuns que gravou com Jeff Beck, com o The Faces e os discos solo que lançou no começo da década de 70, parte da crítica trata Stewart com condescendência, sem se ater à notável obra musical que criou. Nesta autobiografia, escrita com a colaboração de Giles Smith, o espírito moleque e bom-vivant do cantor permanece intacto. Rod Stewart é astro do rock 100% do tempo, e mansões, carrões, badalações no jet set e loiras são elementos constantes nas páginas da vida do cantor. Pelo menos ele não é pedante, o que resulta em um relato sincero de um rapaz da classe trabalhadora inglesa (extremamente talentoso, diga-se) que só quer, merecidamente, levar a vida em alto estilo. Assim, o livro é como a vida de Rod Stewart: divertido, glamouroso e fácil.
Peter Criss – Minha Vida Dentro e Fora do Kiss
(Editora Lafonte ) O ex-baterista do Kiss, autor da imortal “Beth”, não pode se queixar. Enquanto esteve com a banda, aproveitou ao máximo a vida regada a sexo e drogas. Mas Criss exagerava, bateu de frente com o líder Gene Simmons e acabou sendo expulso. O livro é a crônica sórdida e explícita dos altos e baixos de Criss, que destilou todo o desprezo que sente por Simmons e pelo vocalista Paul Stanley. Sensacional para afeitos à baixaria; pena que o autor mais pareça um perdedor ressentido.
MOMENTO REVELADOR Criss em 1994, na pior, com um revólver na boca, prestes a cometer suicídio – o que não aconteceu, é claro.
Vida – Keith Richards
(Globo Livros) O guitarrista dos Rolling Stones não é afeito a detalhes. Em Vida (2010), ele erra datas, contextos, situações e confunde personagens. Mas a graça é essa. Sempre maior que a vida, Richards prefere olhar para o quadro geral. O livro, coescrito com James Fox, foi um best-seller merecido, já que é puro Keith: rebelde, descontrolado e folclórico, mas também hilariante e muitas vezes nostálgico e sentimental.
MOMENTO REVELADOR Richards descobre um livro de gosto duvidoso escrito por uma certa “Brenda Jagger”, e assim o cantor dos Rolling Stones ganha um apelido nada carinhoso.
Ron Wood – A Autobiografia de um Rolling Stone
(Évora/Generale) Antes de Keith Richards contar sua história, Ron Wood já havia escrito essas mal traçadas linhas em 2007, tendo como coautores Jack Macdonald e Jeffrey Robinson. Muita gente fala que ele é apenas um cara sortudo, que conseguiu uma vaga nos Rolling Stones devido à amizade com Richards. Mas isso é só uma constatação óbvia da personalidade gregária do guitarrista. Richards é figura recorrente no livro, que também enfileira inúmeras relações com celebridades e outros astros do rock. As histórias de drogas, farras e bebedeira soam verdadeiras, mas aqui nada de tragédia ou culpa. Com Ron Wood, a vida é sempre uma festa.
MOMENTO REVELADOR Wood vê o lado feio da vida em uma cadeia em Barbados em 1980, quando ele e a mulher Jô passaram alguns dias presos por posse de drogas.
Eric Clapton – A Autobiografia
(Planeta) Ninguém consegue projetar uma imagem mais blasé do que Eric Clapton. O relato que faz neste livro publicado em 2007 é franco, mas também desinteressado. Ele detalha os anos perdidos em meio a drogas, os casos amorosos que acabavam mal, mas não dá a mínima para a música que fez nos anos 60 e 70. Ao final do livro, o guitarrista não parece um músico brilhante apaixonado pelo blues, mas sim um senhor do campo, contente em reinar em uma mansão milionária no interior da Inglaterra.
MOMENTO REVELADOR Clapton confessa que a morte acidental do filho Conor em 1991 o fez perder a fé na vida, mas também foi a chave para a sobriedade definitiva.
Max Cavalera – My Bloody Roots
(Agir) Sair do sepultura, em 1996, deixou marcas profundas em Max Cavalera. Mesmo distante do Brasil e conduzindo diversos projetos (como o Soulfly), ele jamais tirou a ex-banda completamente do radar. Bem articulado e detalhista, Max expõe essas feridas em My Bloody Roots, discorrendo inclusive sobre questões mal resolvidas com antigos colegas, como o baixista Paulo Jr. e a atual empresária da banda, Mônica Cavalera.
MOMENTO REVELADOR Max confessa que teve problemas com álcool e analgésicos desde os primeiros anos de Sepultura (hoje diz estar sóbrio): “Se você chega ao ponto de roubar vodca de uma loja, isso significa que não está bem. Quero dizer que está com problemas sérios, entendem?”
Steven Tyler – O Barulho na Minha Cabeça Te Incomoda?
(Benvirá) Steven Tyler é um bocudo – não só pelo tamanho dos lábios, mas pelo que conta nesta autobiografia, coescrita com David Dalton. O cantor do Aerosmith é detalhista sobre drogas, traficantes, traições e reabilitação. Isso sem falar dos arranca-rabos com o guitarrista Joe Perry. Mas o ego sem freio e o aspecto triunfalista e gozador de Tyler elevam o livro a um mero relato de clichês sobre os excessos de um típico astro milionário do rock.
MOMENTO REVELADOR A passagem pela clínica de reabilitação Sierra Tucson. De forma hilariante, ele relata como enlouqueceu todo mundo no local.
Neil Young – A Autobiografia
(Globo Livros) A carreira de Neil Young sempre foi pautada pela idiossincrasia. No momento de escrever um livro sobre a própria vida, não foi diferente. Young não se interessou por uma ordem cronológica; memórias surgem do nada, às vezes atropelando a narrativa. Ele escreveu o que deu na telha, por isso, em meio a sensacionais lembranças musicais, Young também rumina tediosamente sobre sistemas de som, carros e trens de brinquedo.
MOMENTO REVELADOR Young fala sobre os filhos Zeke e Ben, que nasceram com paralisia cerebral.
Eu Sou Ozzy
(Benvirá)Parece óbvio que Ozzy precisaria de ajuda para se lembrar dos momentos singulares que já viveu, então a parceria com o jornalista Chris Ayres é mais do que obrigatória. O cantor avisa logo na primeira página que não se lembra de nada por causa dos excessos que transformaram o cérebro dele em “gelatina”. Seja como for, Eu Sou Ozzy é um retrato minucioso e surreal sobre as condições que tornaram o príncipe das trevas um dos maiores homens de frente do rock em todos os tempos – e os excessos ajudaram em muito nisso.
MOMENTO REVELADOR Ozzy descreve os empregos que teve antes de entrar na música: encanador, operário em uma fábrica (em que quase morreu intoxicado), afinador de buzinas e faz-tudo em um matadouro, onde se especializou em limpar estômagos, remover a gordura de carcaças e abater vacas e porcos.
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