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Corpo de Lama: O Manguebeat e seus filhos!

Este corpo de lama que tu vê
É apenas a imagem que sou
Este corpo de lama que tu vê
É apenas a imagem que é tu
Que o sol não segue os pensamentos
Mas a chuva muda os sentimentos
Se o asfalto é meu amigo eu caminho
Como aquele grupo de caranguejos
Ouvindo a música dos trovões
Esta chuva de longe que tu vê
É apenas a imagem que sou
Este sol bem de longe que tu vê
É apenas a imagem que é tu

(…)

Nação Zumbi e Mundo Livre S/A iniciaram o movimento Manguebeat, mas ninguém tinha garantias de que ele sobreviveria. Mas sobreviveu! E foi com o segundo disco de Chico e Nação Zumbi, Afrociberdelia, que o mangue nunca mais foi o mesmo. Ele marcou o encontro entre as músicas brasileira e africana, o rock, o rap e as revoluções digitais que deram nova cara ao mundo nos anos 1990. “Macô”, “Manguetown” e “Maracatu Atômico” são verdadeiros hinos recifenses, que nunca mais saíram do repertório da banda e das audições do fãs.

Mas o Manguebeat vai além: são manifestos, discos, transgressões, revoluções! Conheça um pouco da história de alguns discos lançados por Nação Zumbi e Mundo Livre S.A.

Rios, pontes e overdrives – impressionantes esculturas de lama

Da Lama ao Caos – 1994

“Essa música fala da paixão de uma pescador marginal por uma lavadeira”- É o que a voz de Chico registra no chico-science-naco-zumbi-da-lama-ao-caos-lacradocoração fervoroso de quem sai da lama diretamente ao caos, e depois volta em direção à maloca, na beira do rio.
O primeiro álbum de Chico Science e Nação Zumbi foi lançado em 1994 e marca o divisor de águas entre o antes e o depois do Manguebeat.
Um clássico dos anos 90, década que por vezes foi considerada como “perdida”, Da Lama aos Caos leva o Maracatu pernambucano pro mundo, e traz o rock, o hip hop e a cultura pop pra Pernambuco.
Quase impossível destacar músicas desse álbum, mas, sem dúvidas, “A Praieira” não nos deixa mentir sobre o valor dessa obra e seu alcance no Brasil todo.

Afrociberdelia – 1996

Segundo disco da banda foi lançado um ano antes do trágico falecimento de Chico. O disco vem para reforçar a chico-science-naco-zumbi-afrociberdelia-novo-lp-disco-de-vinilrevolução iniciada por Nação e Mundo Livre. Afrociberdelia reafirma a condição inovadora do Manguebeat.
O resgate das tradições pode ser exemplificada por “Maracatu Atômico”, música conhecida e eternizada na voz de Chico, mas de autoria de Jorge Mauter, e gravada por tantos outros grandes artistas, como Gilberto Gil, por exemplo.
Maracatu Atômico se transformou em um hino e pode ser considerado a síntese do movimento que resgata a tradição e a moderniza e dissemina.

Fome de Tudo – 2007

Fome de Tudo é um importante marco pra banda na era pós Chico. É nesse disco que Jorge Du Peixe concretiza seu lp-vinil-naco-zumbi-fome-de-tudo-novo-lacrado-274101-MLB20281934551_042015-Fvocal e se mostra completamente pronto pra essa responsabilidade. O movimento Manguebeat já foi considerado extinto por muito críticos, e a Nação também já despertou dúvidas de muitos por não ter mais Science entre eles. Fome de Tudo afirmou exatamente o contrário, A Nação vive e está faminta!
Com um som com pegadas mais dentro do Rock e do Rap, mas sem deixar as origens do Maracatu de fora, Fome de Tudo reinventa a Nação, o que, de alguma forma, não chega a ser uma novidade, já que essa é uma essência da banda.

Samba Esquema Noise – 1994

O álbum é irmão de “Da Lama ao Caos”. Nascidos em 1994, são os concretizadores do Manifesto Manguebeat. A samba esquema noiseprimeira música do disco já mostra “o que te aguarda” e a característica futurista da Mundo Livre – A Eletricidade Alimenta!!
Formada originalmente por Fred Zero Quatro, Fábio Goró, Bactéria, Xef Tony e Otto, a banda teve sua obra como uma das melhores dos anos 90. A produção tem uma mistura de Rock, Samba, Punk e os ritmos regionais que marcaram a geração manguebeat.

mundo livre-guentandoGuentando a Ôia – 1996

Depois do aclamado Samba Esquema Noise, o Mundo Livre se superou e lançou seu disco mais roqueiro, quase punk. Nada dos climas eletrônicos de Carnaval na Obra e Por Pouco, os dois discos imediatamente posteriores. Os pandeiros pouco dão o ar da graça. Em A música que os Loucos Ouvem (Chupando Balas), o cavaco aparece, uma balada em que a ironia de Zero Quatro chega às raias do punk: “Essa não é a música que os arcebispos ouvem quando estão fornicando/Essa não é a música que os jornalistas ouvem quando estão mentindo”. Destaque para o minimalismo e a perfeita integração cavaco/baixo/bateria.

Carnaval-Na-Obra-coverCarnaval na Obra – 1998

Carnaval na Obra (1998) ficou arquivado por quase um ano, devido a problemas com a gravadora. Com quatro produtores diferentes (Bid, Apollo 9, Edu K e Miranda), Carnaval na Obra serviu para mostrar que o Mundo Livre era uma banda capaz de lançar discos clássicos em uma época em que discos clássicos eram raros. O grande passo a frente de Carnaval na Obra é musical. As letras de Zero Quatro continuam inteligentes, mas agora ganham o reforço de excelentes arranjos musicais. O que era efeito e esporro nos primeiros discos se transforma em samba cadenciado, ora acelerado (Édipo, o Homem Que Virou Veículo), ora tradicional (A Expressão Exata, Ultrapassado), ora baladeiro (Maroca).

mundo-livre-sa-por-pouco-2001Por Pouco – (2000)

O disco retoma a urgência do segundo lançamento, mas com o samba em primeiro plano, seja na faixa de abertura – O Mistério do Samba, na sambalada Meu Esquema, na chacoalhante Mexe-Mexe (presente do ídolo-mor, Jorge Ben Jor) e na desesperançosa faixa título. A veia punk é sentida na acelerada Concorra a Um Carro, na agitada Treme-Treme e no discurso Batedores. Covers de Manu Chao (Minha Galera, com participação das bandas Mestre Ambrósio, Nação Zumbi e Comadre Fulozinha), Mestre Laurentino (Lourinha Americana, com participação de Otto) e Tom Jobim (Garota de Ipanema, feita para um CD especial da gravadora) ainda se destacam neste que é o mais fraco álbum da caixa, mas mantém afiado o discurso de Zero Quatro, que na época criou o CNFS (Congresso Nacional do Futebol e do Samba), cujo objetivo, transcrito no encarte do álbum, era congregar torcedores de todos os times do Brasil tal como componentes de escolas de samba para saírem às ruas e exigir o direito à vida digna e à liberdade. Ficou fora do pacote o quinto disco do grupo, O Outro Mundo de Manoela Rosário, que tem tudo para ser o primeiro álbum do próximo pacote especial Mundo Livre S/A.

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