Dossiê Simonal.
Hoje seria aniversário de Wilson Simonal. Nascido em 23 de fevereiro de 1938, no Rio de Janeiro, o cantor foi um dos maiores nomes da década de 60, acumulando até mesmo o cargo de apresentador de TV, ajudando a revelar novos artistas, e a divulgar a Música Popular Brasileira.
Entre seus principais sucessos estão “Balanço Zona Sul”, “Lobo Bobo”, “Mamãe Passou Açúcar em Mim”, “Nem vem que não tem”, “Tributo a Martin Luther King”, “Sá Marina”, “País Tropical”, “A vida é só pra cantar”. Teve uma montanha russa como alegoria de sua vida, revezando entre os altos e baixos… Mas mesmo assim, nada apagou seu talento, e em 2012 foi eleito o quarto melhor cantor brasileiro de todos os tempos pela revista especializada Rolling Stone Brasil.
Simonal foi o maior cantor de seu tempo. Por mais que esse “tempo” seja questionável. O único nome que podia rivalizar com o seu era Roberto Carlos, pois estavam ombro a ombro em vendas de discos e disputa de número de fãs, mas o Rei da Pilantragem sempre esteve a frente em um quesito. Sua voz! Ninguém jamais o alcançou nesse aspecto.
Da infância simples e pobre, aos primeiros shows, de plateias com 40 pessoas ao show com 30 mil no Maracanãzinho. Esses foram apenas alguns dos saltos dados por Simonal.
Alguns outros foram menos agradáveis, tanto pra ele, quanto para o público:
O cantor carregou em sua mala algumas bagagens de decepção, deslizes, mal entendidos, perseguições e escolhas erradas. Foi considerado como um dedo duro durante o período militar, e acusado de traidor da classe artística.
Inicialmente acusado de alienado e até mesmo conivente ao regime militar, a massa ainda andava ao lado do cantor. Sua malandragem, irreverência e alto astral conquistava facilmente o público, e ser um adepto das causas políticas não era necessariamente um pré requisito. Porém… Algumas atitudes, e fatos marcantes no início da década de 70 fez com que “O Cara que todo mundo queria ser” se transformasse em um senhor desprezível e desprezado.
Aqui já não nos cabe mais julgar, mas também não podemos deixar pra trás os fatos. Acontece que em 1971 Simonal iniciou um desentendimento com seu contador devido algumas suspeitas de calote, e acabou por entregar seu ex funcionário para a polícia. Nada mais natural, sem dúvidas… mas acontece que os tempos eram outros, e essa entrega aconteceu justamente ao DOPS (Departamento de Ordem e Política Social). O país vivia em plena Ditadura Militar, e esse órgão era utilizado para censurar e reprimir movimentos políticos e sociais que fossem contrários ao regime. Sua função era assegurar a “disciplina e ordem”. A polícia que cuidava de casos de roubos, furtos, sequestros era a Polícia Civil.
Exposto essa fato, fica fácil compreender o problema. O contador foi torturado e obrigado a fazer falsas declarações. O caso até hoje não é bem esclarecido.
Mas simplistas também não podemos ser. Simonal também foi claramente vítima de racismo e do sistema. Um homem negro de origem pobre que alcançou fama e o posto mais alto do sucesso só poderia ser considerado um “criolo metido” e “prepotente”. A nata da intelectualidade branca jamais aceitou suas ascensão, e qualquer de seus deslizes se tornariam o maior dos pecados.
Simonal poderia ser mesmo alienado, ou apolítico, como muitos classificam. Assim como Roberto Carlos também é/era. Não podemos negar que o tal “Rei” até os dias de hoje pouco se manifesta ou se posiciona perante causas políticas. O que pode até ser linkado ao abandono do Rock, um gênero subversivo, e a adesão à música romântica. Podemos com isso apimentar um pouco mais essa discussão!
O fato é que o Destino foi injusto com o verdadeiro Rei, seja da pilantragem ou da venda de discos. Simonal faleceu sozinho, quase esquecido, e vítima do alcoolismo.
Em sua caminhada é possível notar esses reflexos de tristeza no disco lançado em 1975: Ninguém Proíbe o Amor.
Em tempos de censura e proibição, o título desse trabalho é no mínimo curioso. O sempre alegre, irreverente, piadista e espontâneo, aparece agora sério, na penumbra. É o retrato do último grande trabalho do músico, que depois disso foi colocado do lado de fora da MPB.
Em 1975, o cantor carioca Wilson Simonal (1938 – 2000) não tinha motivo para sorrir e tampouco para expressar a alegria esfuziante que pautou a discografia do artista na áurea década de 1960. Isolado no meio artístico, por conta da acusação (nunca comprovada oficialmente) de ser dedo-duro dos colegas que lutavam contra os desmandos do governo militar instaurado à força no Brasil em 1964, Simonal conseguiu gravar naquele ano de 1975 um álbum mais introspectivo e por vezes até tristonho, efeito da solidão amargada pelo cantor na época. Intitulado Ninguém proíbe o amor e lançado originalmente pela gravadora RCA Victor, esse álbum chega às plataformas digitais neste mês de fevereiro de 2017, 42 anos após a edição original, com a mesma capa e com as mesmas dez músicas do LP de 1975.
Foi um disco completo, trazendo toque do soul, e com abertura e fechamento com sambas. O repertório traduzia o seu desânimo e isolamento. Foi recebido com silêncio, algo inadmissível a alguém de tanta potencialidade vocal.
Se interessou pelo tema, e quer saber mais? Vamos deixar aqui algumas dicas:
Documentário: Wilson Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei
Leituras:
Wilson Simonal – Memórias da Ditadura
Simonal Desafinou na Ditadura? – IstoÉ
Documentário passa a limpo a polêmica em torno de Wilson Simonal – Rolling Stone