O Brasil pediu: Abaixo a Guitarra Elétrica!
Há 50 anos, acredite se quiser, acontecia uma marcha contra a guitarra elétrica. Sim, você não leu errado. Essa passeata aconteceu em 17 de julho de 1967 .
Entre os cabeças dessa manifestação estavam Elis Regina e Jair Rodrigues. Mas teve um outro presente que você vai se espantar em saber… Se for buscar vídeos e fotos, verá que Gilberto Gil estava por lá. Há diversas justificativas para isso: em declarações ele afirma ter ido a pedido de Elis, outras lendas já contam que ele “caiu de gaiato” depois de alguns baurets num quarto de hotel. A real história só ele vai saber dizer!
Mas e o motivo? Você sabe?
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No momento em que vivíamos uma Ditadura Militar no Brasil, e período em que os artistas sofriam perseguição e censura, é estranho pensar que esses mesmos seres considerados “subversivos” pudessem querer proibir ou barrar algo. Mas aconteceu. Porém, como sempre, precisamos deixar o simplismo de lado, e compreender a primeira impressão que a guitarra elétrica trazia.
Na intenção de defender a cultura brasileira, autonomia, soberania cultural e proteger a música nacional da invasão estadunidense, muitos artistas encaravam a guitarra como símbolo do imperialismo americano, e por isso precisava ser barrada. A música brasileira não podia ser invadida.
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A Passeata Contra a Guitarra Elétrica teve início no Largo de São Francisco e contou com a adesão de grande parte da intelectualidade da época, como Elis Regina, Jair Rodrigues, Geraldo Vandré… Questionavam a presença de elementos estrangeiros na nossa música.
Em contraponto, para Caetano Veloso, usar a guitarra elétrica era uma decisão política. E se manteve firme em seu posicionamento. E foi seguindo seu ponto de vista que Caê se junto a um trio que iria, junto aos baianos, abalar a estrutura da música brasileira. Um trio descoberto no programa de Ronnie Von: Os Mutantes.
Em 68, no Festival Internacional da Canção, Caetano apresentou a canção “É proibido proibir”, que era um pretexto para defender uma postura de ruptura declarada ao “bom gosto” que as patrulhas de esquerda e de direita impunham à cultura. Junto aos Mutantes armou uma verdadeira zoeira musical orquestrada por Rogério Duprat. Logo que começaram as guitarras elétricas distorcidas, as vaias foram ensurdecedoras, e Caetano não se submeteu. Fez um discurso muito forte contra o conservadorismo na arte e na sociedade, acusando a plateia de ser igual aos repressores e de “não entenderem nada”.
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Muitos dos que foram contra a guitarra se arrependeram, fizeram a autocrítica, ou compreenderam as demais formas de se utilizar esse instrumento na música brasileira. Mas enquanto esse processo se desenrolava, Caetano e Gil puxavam movimentos de transformação, o que resultou na Tropicália, e suas diversas experimentações que ultrapassaram a esfera da música. É importante lembrar e reconhecer que a Tropicália bebeu muito na fonte da 1ª geração do Modernismo, valorizando a brasilidade (mesmo fazendo uso da diabólica guitarra). E assim como a música, o teatro, a poesia, e até o jornalismo viajaram nesse movimento que foi um verdadeiro divisor de águas na forma de fazer música no Brasil.
Vejam alguns relatos sobre os presentes na passeata contra a guitarra elétrica:
Taí uma parte da história da guitarra no Brasil que realmente eu não conhecia!
Já vi marcha contra diversas coisas, mas marcha contra a guitarra elétrica!!