Curiosidades

Rock Rural: Uma forma simples de explicar a complexidade da música brasileira.

Na semana em que se comemora o dia “mundial” do rock, o blog Bilesky Discos está preparando uma série de textos especiais para celebrar a data. Mas, não estamos apenas falando de rock, estamos falando do rock produzido por aqui, nessa imensidão cultural chamada Brasil.

Não é segredo pra ninguém nossa paixão por música brasileira e por nossa cultura, referências, estilos, instrumentos, regionalidades. Vivemos em um dos países mais ricos do mundo, ao se considerar cultura popular e diversidade como riquezas. Dificilmente algum outro lugar do mundo consegue se igualar a nós.

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Mas nós também sabemos que “nada se cria, tudo se copia”. (rs) Pois não negamos, de forma alguma, as referências externas que buscamos no passado, presente e (buscaremos no) futuro. E um grande exemplo de referência externa é a inserção do Rock em nossa cultura, e as diversas possibilidades de criação que ‘ele’ nos permitiu, e como se adentrou às regiões brasileiras e gerou fusões maravilhosas.

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Em nosso facebook fizemos a seguinte pergunta: Rock combina mais com Samba ou Baião? Vocês já devem imaginar as polêmicas que surgiram. Para apimentar mais a discussão, que tal falarmos sobre o tal Rock Rural, e como ele é a prova de que o Rock, além de combinar com Samba, Baião, combina também com viola caipira e diversos outros elementos da cultura popular brasileira?! Aceitamos o desafio!

“Eu tô doidin por uma viola
Mãe e pai, de doze cordas e quatro cristais
Pra eu poder tocar lá na cidade
Mãe e pai, esse meu blues de Minas Gerais”

“Mas, afinal, o rock rural existe de fato ou é apenas um rótulo que serve para definir o estilo Sá, Rodrix & Guarabyra ou Sá & Guarabyra? Essa é uma pergunta que nos fazemos frequentemente, porque, mesmo dentro dos quase quarenta anos de nossa carreira, ele se mostrou tão legítimo em Nunca quanto ausente em Rio-Bahia, nosso disco de 97, talvez o mais – digamos assim – brasileiro de todos. Creio que essas idas e vindas em trabalhos pendendo ora para o rock, ora para uma música de raízes fincadas no regional acabaram por fazer com que público e crítica entendessem que rock rural seria apenas um rótulo para definir o indefinível do estilo próprio de um só artista
ou grupo. Seguindo essa mesma linha poderíamos chamar o “Coroné Antonio Bento” (João do Vale e Luiz Wanderley) gravado por Tim Maia de “soul nordeste” ou a Nação Zumbi e Chico Science de “heavy maracatu”… A meu ver, trata-se tão somente de um esforço da mídia para encontrar aquela denominação que consiga localizar
um estilo no espaço de entendimento do leitor. O problema é que o que caracteriza na verdade o trabalho desses artistas que buscam um novo mix entre o que chega de fora – artística e tecnologicamente falando – e suas raízes culturais, dentro daquele larguíssimo espectro que vai do caipira à bossa nova, é justamente a instabilidade que rege essa procura, a caça permanente à originalidade, a recusa, enfim, de rótulos”.

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Esse é um trecho de Luiz Carlos Sá em Rock Rural: origens, estradas e destinos, texto publicado pela USP e disponível aqui. A leitura vale muito a pena, pois é um momento de reflexão e retomada de Sá sobre sua trajetória, carreira, amizades, e produção intelectual. Nesse texto ele conta como se aproximou de Zé Rodrix, o verdadeira pai do Rock Rural, e como os primeiros trabalhos em dupla com ele, logo viraram trabalho em trio com a chegada de Guarabyra.

Os três, cada qual com sua origem e territorialidades trazidas na mala, tomaram como base de inspiração e paixão o rock, e também tudo aquilo que completava suas personalidades, seus conhecimentos, suas terras, e a subversões ao sistema e ao materialismo.

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“Na realidade o que fizemos de mais acertado foi justamente mirar na demolição de certos preconceitos arraigados naquele público jovem-classe-média-universitária que nos acolheu de princípio: enquanto Rodrix ressuscitava o então desprezado acordeão e partia também para a execução de instrumentos vistos como “exóticos”, como cravo, celesta, harpsicórdio, etc., eu eletrificava e experimentava diferentes afinações na viola caipira de dez cordas, antes esnobada como instrumento menor, enquanto Guarabyra resgatava os sons das barrancas do São Francisco, largamente ignorados por um país que – ancorado no eixo Rio-São Paulo – não conhecia o Brasil real. Dessa mistura de três cabeças de formação e direções aparentemente divergentes foi que surgiu o que se pode chamar de rock rural.
As rádios do Brasil inteiro executavam “Hoje Ainda É Dia de Rock” (Rodrix) que, dizendo “Eu tô doidinho por uma viola, mãe e pai/ De doze cordas e quatro cristais/ Pra eu poder tocar lá na cidade, mãe e pai/ Esse meu blues de Minas Gerais”, caracterizava sucintamente nossa ambiguidade urbanorural, acústico-elétrica, roqueiro-caipira.” (Trecho de Sá em Rock Rural: origens, estradas e destinos)

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Sá, Rodrix e Guarabyra são os grandes representantes dessa manifestação rural do rock, mas por aqui, no blog, já vimos diversos exemplos de fusões nada simples que deram origem a grandes obras, e de tão complexas e belas, muitas vezes podem ficar à margem do reconhecimento do público, ou até mesmo sem uma referência, com a tal dúvida: Quem som é esse?

Mas a beleza da arte, da música e da cultura é essa! Agora responda… O que combina mais com rock?

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2 comentários sobre “Rock Rural: Uma forma simples de explicar a complexidade da música brasileira.

  • O que tivemos aqui os Estados Unidos também fizeram e a matéria simplesmente ignorou.Aliás,por lá,chamam de “folk” e os consagrados Simon and Garfunkel entram na lista,assim como os The Walkers que,no Brasil,ficaram conhecidos com a canção “There’s no more corn on the Brasos”.Aqui o “folk” foi chamado de “rock rural” e, pelo país se gravou muita coisa na linha criativa de Sá,Rodrix e Guarabira,como,por exemplo,os catarinenses da Expresso Rural,inclusive,com uma das canções do primeiro álbum chamado “Rock Rural”,além de outros grupos aqui do estado como a Sol Fluído e o Grupo Engenho.A matéria foi legal,mas poderiam ter explorado mais.

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