Sgt. Pepper’s: o desafio de tratar o LP como obra de arte.
Com sua base conceitual e embalagem exuberante, Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, lançado em 1º de julho de 1967, foi uma inovação ao tratar o LP de vinil como obra de arte.
Já existiam álbuns conceituais, desde In the Wee Small Hours, de Frank Sinatra, de 1955, mas só o título já sugeria que Sgt. Pepper’s seria diferente. Depois de sete LPs de excelente vendagem, os Beatles vieram com a audaciosa ideia de criar um trabalho de uma banda fictícia, “tocado” pelo Fab Four nos trajes militarescos que ostentavam na capa. As canções não tinham vínculo temático, mas os efeitos sonoros de uma plateia e uma reapresentação da faixa-título de boas-vindas criam a ilusão de um concerto dado por uma banda titular.
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As músicas não podiam ser mais diferentes umas das outras. A elegante “With a Little Help from My friends” desemboca numa viajante “Lucy in the Sky with Diomonds” e na triste “She’s Leaving Home”. Sgt. Peppers apresentou um caleidoscópio de letras e canções, chegando ao auge em “A Day in the Life”, com seu último acorde estrondoso soando como se fosse durar para sempre. E durar para sempre o LP podia de fato: no final havia uma faixa com conversa e risada num sulco que girava em loo-ing, ad infinitum se o toca-discos não tivesse retorno automático.
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A embalagem era tão inovadora quanto a música. Junto com o artista pop Peter Blake e sua companheira escultora, Jann Haworth, os Beatles conceberam um painel em escala natural de fotos e manequins de seus heróis e heroínas, diante dos quais posaram com a banda do sargente Pimenta. O resultado, registrado em um estúdio no bairro de Chelsea pelo fotógrafo Michael Cooper, tornou-se em uma das capas mais emblemáticas da história do vinil – logo parodiada por Frank Zappa e sua Mothers of Invention no LP We’re Only in It for the Money, de 1968. Zappa chegou a colocar como encarte uma folha com imagens recortadas, do jeito que os Beatles fizeram. Blake lembrou que sua primeira ideia havia sido inserir um pequeno pacote com insignias e lembranças, ideia que o selo EMI descartou por questões de custo.
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A parte interna da capa dupla abria numa foto panorâmica da banda e, para completar a experiência de imersão, a contracapa foi uma das primeiras a trazer todas as letras das músicas. Sgt. Pepper’s foi produzido em 129 dias e abriu a trilha para que os LPs se tornassem mais que simples veículos em vinil para o pop.
Um dos discos mais incríveis, em sua totalidade, da história!
Fonte: Vinil – a arte de fazer discos.