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Saiba como surgiu o primeiro disco de música eletrônica no Brasil.

Professor na Universidade de Brasília há mais de 40 anos, Jorge Antunes é um compositor e maestro nascido no Rio de Janeiro, e responsável pelo primeiro disco de música eletrônica produzido no Brasil. Gravado em 1975, o álbum Música Eletrônica ainda é uma obra pouco conhecida, mas isso não diminui sua importância na história da música nacional.

Jorge Antunes passou por diversas fases em sua relação com a música. Antes de iniciar seus experimentos com a música eletrônica, ele tinha um viés mais nacionalista, algo recorrente na épica, e foi no ano de 1961 que isso começa a mudar.

Um novo olhar nasce depois de assistir ao pianista David Tudor apresentando Kontakte, uma peça de Stockhausen. Era o primeiro concerto de música eletrônica feito no Brasil, que aconteceu no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, e foi organizado pelo maestro Eleazar de Carvalho.

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Na época, Jorge Antunes tinha apenas 19 anos, e estudava violino… ainda não havia começado os estudos em composição. Trabalha com eletrotécnica e radiotécnica, o que o facilitava com os conhecimentos de eletrônica.

“No fim daquele ano, usando meu conhecimento e com ajuda de umas revistas de eletrônica, construí um theremin e um gerador de ondas dente de serra”.

É nesse momento que Jorge compõe a peça Pequena Peça Para Mi Bequadro e Harmônico, sua primeira realização com música eletrônica. Fez também três peças intituladas Estudos Cromofônicos, que marcam o início de sua pesquisa sobre a correspondência entre sons e cores, algo que iria resultar em um livro no ano de 2011.

Mas as coisas não fluíam de forma fácil para Jorge e suas composições. Dois anos depois, em 63, momento em que já era estudante universitário na Universidade do Brasil, atual UFRJ, Antunes tinha dificuldades em apresentar seus estudos e trabalhos com música eletrônica. Pelos professores da época ele era “tachado de maluco”, e restringia as exibições apenas aos amigos mais próximos.

Três anos depois, em 66, Jorge Antunes é convidado pelo compositor Reginaldo Carvalho, recentemente de volta ao Brasil, para trabalhar no antigo Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, atual Instituto Villa-Lobos.  Juntos, eles montaram o primeiro curso de música eletrônica do Brasil, que durou de 1966 a 1968.

O curto período de curso se deu por questões políticas. Naquele momento, o Brasil passava por duros anos de repressão militar, e em 68, com a assinatura do Ato Institucional nº5, tudo ficou ainda mais difícil. Principalmente para aqueles que trabalhavam com arte.

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Jorge é então demitido do Instituto Villa-Lobos devido suas articulações políticas com o movimento estudantil e e Partido Comunista, o que o obrigou a deixar o Brasil e procurar outras possibilidades.

Ele consegue, então, uma bolsa de pós-graduação em composição no Instituto Torcuato Di Tella, em Buenos Aires. Depois passa por Holanda, Paris e França, e só retorna ao Brasil em 1973, no período de abertura política.

Em seu retorno, Antunes é convidado pela Universidade de Brasília para dirigir o Curso de Composição Musical.

As novas possibilidades na música

Em seu retorno ao Brasil, Jorge trazia na mala diversos rolos de fita com gravações de peças particulares realizadas no estúdio do Instituto Villa-Lobos, outras em Buenos Aires, algumas em casa, independentes, etc… É aí que ele começa a buscar gravadoras que pudessem se interessar em publicar o primeiro disco de música eletrônica do país.

Ele recebeu 15 cartas negativas… Mas havia uma positiva, em nome da Mangione Discos. Isso se deu graças a recomendação do maestro Francisco Mangione ao dono da empresa.

O disco Música Eletrônica utilizava ruído branco, feedback, loops, manipulação de fitas, vocais processados e tinha um caráter protominimalista influenciado por Iannis Xenakis, Pierre Schaeffer e Stockhausen. Valsa Sideral (1962) usa ecos e reverberação artificial e Contrapunctus Versus Contrapunctus (1962) é criada manipulando o som de fita magnética. A impactante Auto-retrato Sobre Paisaje Porteña (1969/1970) sampleia um antigo LP de tango, adicionando texturas eletrônicas e poesia sonora com vozes processadas também eletronicamente.

Todos estes elementos eram raros para a música brasileira até esse momento. O álbum Electronicus (1974) de Renato Mendes foi o único brasileiro a ganhar o prêmio Nidden, que é dedicado à música produzida por instrumentos eletrônicos. Porém, só apresentava versões de clássicos da MPB como A Banda  A Noite do Meu Bem tocadas por um sintetizador moog – ou seja, é um disco de sonoridade eletrônica, não de música eletrônica propriamente. Walter Smetak, Tom Zé e Caetano Veloso utilizaram essas técnica, mas de forma mais pontual. E, diferente de discos como Todos os Olhos Araçá Azul, Música Eletrônica foi bem recebido na imprensa.

Antes mesmo do lançamento de seu álbum, Antunes já era um cara pautado por trazer ao Brasil a experimentação das vanguardas musicais europeias. No jornal Última Hora, por exemplo, uma manchete no dia 15 de maio de 68 anunciava: “Nova linguagem na arte: música eletrônica tem ruído de copo quebrado”.

O disco foi um sucesso, e ultrapassou as perspectivas esperadas. Foram vendidas todas as cinco mil cópias em um ano, a gravadora Mangione tinha um esquema de distribuição e divulgação muito forte na época. Mídias como Veja, Folha, O Globo, Jornal do Brasil, Correio Braziliense e Estadão realizaram entrevistas ou fizeram notas sobre o trabalho de Jorge.

Na primeira gravação obras como Historia de un Pueblo Auto-Retrato continham trechos musicais com sons que se reportavam aos generais da ditadura militar e uma citação da Internacional Comunista. Mas que foram vetadas do lançamento de 75 para evitar novos problemas com os militares.

Escute o disco todo:

O que achou? Gostou? Quer saber mais sobre essa história? Então veja o documentário a seguir, e comente com a gente o que achou!

MAESTRO JORGE ANTUNES, POLÊMICA E MODERNIDADE

Documentário sobre a vida e a obra do maestro Jorge Antunes, realizado pelo cineasta Carlos Del Pino em 2005.
O filme foi premiado e financiado pelo Ministério da Cultura, no projeto DocTV 2.
A saga do compositor, professor e maestro Jorge Antunes, é mostrada neste documentário de 51 minutos.
Jorge Antunes, precursor da música eletrônica no Brasil, despontou nessa vertente musical em 1961.
Hoje é considerado um dos mais importantes compositores de música erudita experimental do Brasil, e apontado pela crítica internacional como o “líder da música de vanguarda no Brasil”.

 

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