Conheça a real beleza de Sérgio Sampaio.
“O sucesso foi da canção, não meu”. Essa é uma declaração de Sergio Sampaio, dada em uma entrevista feita no ano de 1993, um ano antes de sua despedida. A fala é certeira para descrever a personalidade de um artista tomado como Maldito. A arte precisava sair, afinal, lugar de poesia não é guardada dentro do peito dos grandes poetas, ela precisa chegar às calçadas, à garganta de outros poetas, aos ouvidos dos admiradores, ao meio-fio das madrugadas, aos donos dos copos mais cheios que vazios.
Qual a diabrura, que loucura empregaste pr’eu ficar afim
Quantas cartomantes consultaste pra me seduzir?
Foi brilho de lua que roubaste pra brilhar teus olhos tanto assim
Que magia pura foi aquela que eu não soube mais como dormir
Nascido na “Capital Secreta do Mundo”, Cachoeiro do Itapemirim, a cidade natal de Sérgio rende folclóricas histórias, belezas naturais, e traz também o curioso fato de ser berço de grandes nomes da música, literatura e das artes brasileira. Além de Sampaio, lá também nasceram Rubem Braga, Carlos Imperial, Roberto Carlos e Luz Del Fuego.
Mas, apesar do ponto de partida de grandes nomes e personalidades carregadas de holofotes, como Roberto Carlos, o perfil de Sérgio era outro, suas ambições (se é que assim podemos chamar) também eram outras. “Eu queria ser como o Caymmi, vir devagarzinho (…) Eu não pretendia aquilo, não estava preparado para aquela loucura de segurança, avião, hotéis, shows consecutivos”.
Um livro de poesia na gaveta não adianta nada
Lugar de poesia na calçada
Lugar de quadro é na exposição
Lugar de música é no rádio
Ator se vê no palco e na televisão
O peixe é no mar
Lugar de samba enredo é no asfalto
Lugar de samba enredo é no asfalto
Aonde vai o pé arrasta o salto,
Lugar de samba enredo é no asfato
Aonde a pé vai se gasta a sola
Lugar de samba enredo é na escola
Sérgio Sampaio era filho de pai maestro, Raul Sampaio, e mãe professora, Maria de Lourdes. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1967, onde deu início sua jornada na vida musical. Nessa jornada teve como companheiro ninguém menos que Raul Seixas, na época ainda como Produtor Musical. Após o lançamento Compacto Coco Verde, Sérgio se juntou a Raul, Edy Star e Míriam Batucada e gravaram o raríssimo disco Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10. O Álbum de 1970 carrega lendas e experimentações que mereceu até um documentário.
“Anônimo até de mim”
Sampaio não queria, exatamente, brilhar. Mas o brilho é algo que está impregnado a alguns, e estava a ele, assim como ainda está em sua arte. Um brilho que não se refere ao glamour, ao holofote, sucesso e dinheiro. Mas o brilho de alguém, que mesmo marginalmente perdido numa noite etílica e escura pode ser reconhecido pelo chamado maldito da poesia que transcende. Assim como uma Magia Pura.
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Não fui eu, nem Deus, não foi você, nem foi ninguém
Tudo o que se ganha nessa vida é pra perder
Tem que acontecer, tem que ser assim
Nada permanece inalterado até o fim
Se ninguém tem culpa não se tem condenação
Se o que ficou do grande amor é solidão
Se um vai perder, outro vai ganhar
É assim que eu vejo a vida, e ninguém vai mudar
Eu daria tudo
Pra não ver você chumbada
Pra não ver você baleada
Pra não ver você arreada
A mulher abandonada
Mas não posso fazer nada
Eu sou um compositor popular
Esse é um convite, um chamado. Em 2017 Sergio Sampaio completaria 70 anos, mas há 23 ele já não está mais fisicamente entre nós. Mas a arte… Essa tem cada vez mais seu peso intensificado. Portanto, esse é um convite para ouvir e desbravar a Real Beleza de Sampaio.
*trechos retirados da entrevista feita por Cynara Menezes.