Descubra o mundo do Vinil no Rio de Janeiro
A cidade do Rio de Janeiro é conhecida mundialmente pelas suas belas praias, mas há também um outro fator que a representa muito: é a sua musicalidade. Todos os cantos da cidade respiram música, é o berço do samba, da bossa nova, dos desfiles de carnaval e grandes músicos.
Por esse motivo, para os amantes da música, uma das alternativas de passeios, e de conhecer lugares interessantes no Rio, são as lojas de discos. Nelas é possível desacelerar a ansiedade do consumo instantâneo, e se entregar ao lento ritmo que exige o garimpo pelos Lps buscados por tantos anos.
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Mauricio Gouveia, proprietário da loja de discos “Baratos da Ribeiro”, no Botafogo, entende muito bem que um estabelecimento como o seu necessita tempo e muita atenção. Por isso, com o passar dos anos, fez o caminho inverso, e decidiu que não venderia mais discos pela Internet, e que também não realizaria mais reservas.
“Abri em 2011, a intenção a princípio era só vender livros com outros cinco sócios, e terminei sozinho”, relembra Gouveia. Naquele momento a venda de discos representava um terço do faturamento, pois o CD, que havia chegado quase duas décadas antes para substituir o vinil, começava a perder seu lugar para os downloads de música.
Apesar dessa perspectiva, em 2003, Marcio Rocha, junto de seu sócio Bruno Alonso, decidiu criar a loja “Tropicália Discos”. A loja só vendia discos de vinil e estava localizada no centro da cidade, a poucas quadras de lugares históricos do Rio de Janeiro. “Tive a ideia de abrir a loja ‘Tropicália’ com meu sócio Bruno porque sempre me interessei pelos discos, e já tinha experiência com a loja de CD”.
Mas ainda nos perguntamos: Por que comprar um disco de vinil em pleno 2017, quando podemos encontrar qualquer canção, artista ou estilo pelo celular ou computador? Heitor Trengrouse, que está a frente da loja ‘Tracks’, no bairro da Gávea, responde essa pergunta
“Um Lp exige cuidado, é preciso limpá-lo antes de usá-lo, a capa nos chama a atenção, e é preciso virar o disco para seguir nas audições”, ele ainda acredita que a razão para se comprar um vinil é porque “legitima a obra do artista”. Os músicos “devem saber que canção inciar o disco para chamar a atenção, qual irá encerrar o lado A e iniciar o labo B, e principalmente, qual é a última música que fará o ouvinte querer ouvir ou comprar outro disco”.
Sim, é pouco provável que os discos de vinil voltem a vender aos milhões como nos anos 80, também é verdade que estão na moda, um pouco por nostalgia, ou (alguns dizem) por esnobismo, mas ainda há (e muito) espaço para os colecionadores.
As três lojas tem suas características próprias, sempre determinadas pelo tipo de cliente que as frequenta e os gêneros preferidos por eles. Em comum entre elas está o fato de serem lugares de reunião, no qual os clientes vão não necessariamente para comprar, mas também para conversar, fazer relações sociais, e ouvir música.
Mas cada uma das lojas têm também suas próprias características: em “Baratos da Ribeiro”, cujo público é mais roqueiro, todas as quintas-feiras Gouveia grava “O Clube do Vinil”, um programa de rádio em que um convidado leva seus discos preferidos, e são frequentes também os shows de bandas ou solistas de rock independentes, que quase não teriam possibilidades de tocar em outros lugares. Na loja “Tracks” tem o rock, mas também rola muito jazz clássico, MPB, enquanto na “Tropicália”, de acordo com o proprietário, é especializada em discos raros de música brasileira.
Por mais que o disco pareça algo do passado, assim como uma máquina de escrever, os três proprietários contam surpreendidos que muitos jovens de 20 a 25 anos são compradores de LP. Além do mais, eles contam que o número de mulheres que compram discos tem crescido, enquanto há alguns anos esse era um mundo predominantemente masculino.
E há, também, um outro tipo de cliente nas lojas: o estrangeiro. Os gringos procuram muita música brasileira, e sabem perfeitamente o que buscam, e estão sempre na expectativa de encontrar discos raros, e isso faz com que muitos discos de artistas brasileiros faltem por aqui.
“Meus clientes sabem o que querem, mas nunca se negam a escutar coisa nova. Por isso, na ‘Tropicália’ sempre temos toca-discos a disposição, para que o clientes saibam o que levam”, explica Rocha. Caetano Veloso, Gil, Os Mutantes, discos de samba como os de Cartola, ou Bossa Nova são os mais buscados pelos estrangeiros. Enquanto, entre o público local, o que mais se vende são os discos de Rock, seguidos pelos de jazz e Black Music.
“Como todo mundo tem muita informação disponível, é muito difícil hoje em dia recomendar discos, todos querem os mesmo 50 discos recomendados por portais e revistas. Faltam também especialistas, já que hoje muitos dos que recomendam são agentes de marketing”, se queixa Gouveia.
As lojas de discos de vinil parecem ter um belo futuro pela frente, pois quem gosta de vinil é fiel ao formato e ao ritual de se ouvir música. Para quem quer adquirir um vinil, pouco importa se é mais fácil baixar a música pela internet. Se faz pelo amor e pelo prazer!
Esse texto foi originalmente publicado no portal Espanhol “Tiempo”, e escrito por Leonel Plügel. Leia o texto original em espanhol aqui.