Curiosidades

Blue Note – O Selo que inovou na música e na arte gráfica dos LPs

O selo de jazz Blue Note é tão famoso pelas capas de seus álbuns quanto pela música, muitas vezes histórica, que registrou. Entre meados da década de 1950 e meados da década de 1960, contando com a criatividade do designer Reid Miles, a gravadora forjou uma nova linguagem gráfica que não teria evoluído em nenhum outro formato a não ser o LP de vinil de doze polegadas.

Fundada em Nova York em 1939 pelo emigrado alemão Alfred Lion, a Blue Note de início gravou jazz tradicional e no estilo swing. Os primeiros lançamentos foram os pianistas de boogie-woogie Albert Ammons e Meade Lux Lewis e o astro do clarinete Sidney Bechet. Em 1941, Lion associou-se a Francis Wolf, antigo colega seu da Alemanha, e – após um hiato durante a Segunda Guerra Mundial – o selo tornou-se particularmente identificado com o jazz moderno. Entre os primeiros músicos de bebop da Blue Note estão os pianistas Thelonius Monk e Bud Powell, o trompetista Fats Navarro e o baterista Art Blakey.

Em 1951, quando a gravadora passou da produção de 78 rpm para o long-play de dez polegadas, foi necessário contar com um departamento de arte. Os primeiros designers, todos renomados, foram Paul Bacon, Gil Melle e John Hermansader. Os três produziram algumas das capas mais memoráveis dos primórdios do selo.

Mas foi quando o ilustrador da revista Esquire Reid Miles entrou no departamento de arte do selo como chefe do design gráfico, em 1956, que a Blue Note ganhou forma. Com frequência tirando proveito da impressionante fotografia de Wolf, as capas de Miles faziam um uso criativo das tipologias sem serifa, de retângulos sólidos de uma só cor e de fotos em nuances monocromáticas.

Reid era formado pelo prestigioso Chouinard Art Institute de Los Angeles. Em sua passagem pela Esquire no início da década de 1950, trabalhou sob as ordens de John Hermansader, por meio de quem Wolf o contratou para um trabalho fixo quando o selo passou a lançar LPs de doze polegadas. Miles projetou centenas de capas para o selo mesmo não sendo um apreciador de jazz; as cópias dos LPs que desenhava e recebia de graça, ele dava a amigos ou vendia a lojas de discos usados. Mas concebia suas imagens características em torno das fotos que Wolf tirava dos músicos, ou – abrindo mão delas – obtinha inspiração das descrições que os executivos do selo fazia das sessões de gravação.

O selo permaneceu na vanguarda do movimento hard bop na segunda metade da década de 1950, e várias gravações antológicas de nomes como Lou Donaldson, Stanley Turrentine, Cannonball Adderley, Freddie Hubbard e Lee Morgan ficaram para sempre associadas à arte das capas de seus discos. “O impacto sociológico da Blue Note foi para mim tão forte quanto o de Bob Dylan, ou dos Beatles ou Stones”, declarou o produtor Don Was, presidente do selo em 2012. “Eu queria ser que nem os caras. Fazia minha mãe sair e comprar pra mim uma cartolinha e uma capa de chuva iguais às do Ornette Coleman na capa de Live at the Golden Circle. Eu não consegui fica parecido com ele, mas não foi por falta de tentar”.

A Liberty Records comprou o selo em 1965. Reid Miles saiu em 1967, época em que Alfred Lion se aposentou. Francis Wolf morreu em 1971, mas sua companhia continuou sendo um nome de respeito graças a uma nova geração de jazzistas, como Herbie Hancock e Donald Byrd. Hibernando na primeira metade da década de 1980, a Blue Note ganhou sobrevida como marca da EMI. Reencontrou o sucesso com Cassandra Wilson e Dianne Reeves e desfrutou seu impacto comercial mais espetacular (já como parte do império da Universal) no século XXI graças a Norah Jones, cujo Come Away With Me (2002) vendeu 10 milhões de cópias só nos Estados Unidos.

Com o advento dos CDs, a maior parte do antigo catálogo da Blue Note foi sendo aos poucos relançada. Nos anos recentes, muito desse material ganhou reedição em vinil – em seu formato clássico, o que permitiu a uma nova geração de fãs desfrutas todo o esplendor das artes gráficas das capas produzidas pela gravadora.

Midnight Blue – Kenny Burrell (1963)

“Kenny Burrel –  esse é o som que eu procuro”, observou Jimi Hendrix referindo-se ao homem cuja guitarra abrilhantou clássicos de nomes como Billie Holiday e Jimmy Smith. Tendo gravado para a Blue Note na década de 1950 antes de flertar com a Verve e a Columbia, Burrell voltou para registrar Midnight Blue, em 7 de janeiro de 1963. Com ele, o baixista Major Holley Jr., o baterista Bill English e o saxofonista Stanley Turrentine, abrindo com a comovente faixa “Chitlins Con Carne”. A capa do álbum, de Reid Miles, foi tema de uma adorável paródia no disco Almost Blue (1981), de Elvis Costello.

 

 

 

Unit Structures – Cecil Taylor (1966)

A arte de Reid Miles, nos estilo de Andy Warhol e feita a partir de uma foto batida por Francis Wolf, combina com esse clássico do free jazz. Produzido por Alfred Lion, tem títulos que encantariam o Radiohead: “Steps”, “Enter, Evening (Soft Line Structure)”, “Unit Structure/As Of A Now/Section” e “Tales (8 Whisps)”.

 

 

 

 

 

Comente aqui