Continental Discos – Uma história musical de quase 60 anos!
Já ouviu falar na Casa Edison? Ela foi a companhia pioneira na produção de discos no Brasil, lá no fim do século XIX. Localizada no centro do Rio de Janeiro, a empresa foi idealizada e conduzida pelo tcheco Federico Figner, e acabou sendo, anos depois, sucedida pela Odeon (em 1929). Naquele mesmo ano, em São Paulo, o industrial Alberto Jackson Byington Junior dava início a mais uma empreitada da Byington & Co. Uma companhia já firmada no Brasil na área de máquinas de escrever e geladeiras, e que naquele momento passaria a investir também em música gravada.
Por sugestão do produtor norte-americano de cinema Wallace Downey, Alberto Byington assumiu a representação da Columbia Records no Brasil, e assim aconteceu durante 14 anos, até que a Columbia norte-americana resolveu se instalar por aqui de forma autônoma. Mas isso não foi o fim da era Byington, pois seu conglomerado possuía conhecimento e contato no mercado fonográfico, assim como estrutura e maquinário, portanto, seguiu com total condição de tocar suas atividades fonográficas, mesmo desvencilhada da marca Columbia.
Com João de Barro (Braguinha) como diretor artístico, o braço fonográfico da Byington & Co, a empresa passa a se chamar Continental Discos a partir de 1943, e por muitos anos competiu em pé de igualdade com as internacionais RCA, Odeon e Columbia Broadcasting System (CBS). A companhia de Byington teria ainda tantos outros selos, tais como Chantecler, Caboclo, Musicolor e Phonodisc – sob a razão social Gravações Elétricas LTDA. – ou GEL.
O pesquisador Ruy Castro narra em seu livro “Chega de Saudade” [Companhia das Letras, 1990] o curioso e eficiente sistema de distribuição da Continental em meados das décadas de 50 e 60, que levava seus discos aos lugares mais inóspitos do Brasil, se valendo até de transporte animal – o conhecido “lombo de burro”.
A GEL ganhou força a partir da década de 60, com seus expressivos lançamentos de álbuns de música sertaneja em grande escala, com destaque para nomes como Cascatinha & Inhana, Duo Glacial, Irmãs Galvão, Tonico & Tinoco, Milionário & José Rico e tantos outros. A Columbia, representada pela Byington, havia sido a primeira companhia a explorar esse estilo. A Copacabana (também brasileira) foi mais uma que investiu fortemente nesse segmento. Somente na virada dos anos 80 para os 90 as gravadoras internacionais se renderiam em peso ao estilo sertanejo, tendo como marco a saída de Chitãozinho & Xororó da Copacabana rumo à Philips, um dos selos mais nobres da Polygram – atual Universal Music.
Entre as décadas de 60 e 80, a fábrica da GEL não somente dava conta de suas próprias demandas, como também fabricava discos de várias outras companhias, tais como CBS e Warner Music (WEA). A Warner, por sinal, se estabeleceu no Brasil na segunda metade da década de 70 dedicando-se muito mais aos setores de A&R (artistas e repertório), promoção e vendas do que à fabricação – antecipando uma tendência que viria dominar a indústria anos depois. A GEL possuía ainda uma gráfica própria para produzir as capas e encartes de seus discos. No fim da década de 80, a companhia terceirizou suas prensagens com a americana Wheaton – no Brasil estabelecida em São Bernardo do Campo.
O conglomerado GEL foi incorporado ao grupo Warner em 1993, sem aparentar crise, já que a gravadora vinha emplacando diversos êxitos até então, sobretudo no segmento sertanejo, que tomou conta do Brasil nesse período. Destaque para Roberta Miranda e Leandro & Leonardo, que gravaram diversos discos pela GEL e Warner.
Após a fusão e com a crescente demanda do mercado por CDs, a produção de vinil – e também de cassetes, no mesmo parque fabril – da GEL foi desativada. Os últimos LPs e cassetes lançados por selos GEL / Warner, na década de 90, foram fabricados por diversas outras companhias, ao passo que toda a produção de CDs no Brasil saía basicamente de três fábricas: Microservice, Videolar e VAT. Sony Music e BMG teriam fábricas próprias de compact discs na segunda metade dos anos 90.
A GEL / Continental provavelmente foi a gravadora nacional mais longeva da história de nossa fonografia, e talvez aquela que melhor tenha retratado toda a diversidade musical brasileira entre as décadas de 40 e 90.
Fonte: Blog O Lado Bom
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Gostaria de reaver uma copia da gravaçao da,Continental em 1969 sobre as musicas finalistas do festival estudantil da Tijuca qdo minha composiçao de nome ” Progresso Sem Insucesso ” foi uma das finalistas .Desde já agradeço qqer atençao.Aluisio De Faria
Que lembrança fantástica. Fui Supervisor de Produção da Gravações Elétricas Continental durante muitos anos. Saber que conseguiram reativar algumas máquinas é gratificante.
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