Álbum triplo – Um exagero ou explosão de criatividade?
Um álbum duplo é, na grande parte dos casos, motivo de deleite para os apaixonados por música e pelas criações. O trabalho sempre exige um capricho a mais na produção e na dedicação à audição.
Uma certa vez, contamos aqui no blog a história sobre o disco “Clube da Esquina”, de Milton Nascimento e Lô Borges. Como muitos sabem, essa é uma obra que marcou a década de 70, deu novos rumos aos processos criativos, e… Era um disco duplo!
Porém, seguindo nossa história, o fato de ser duplo o tornava mais caro que os demais trabalhos. E isso aconteceu em uma época em que ouvir música era uma tarefa muito mais complexa que os tempos de hoje, adquirir um disco exigia muita disciplina para economias. E depois de tê-lo eram meses curtindo o som. Adquirir um disco duplo exigia o dobro de dinheiro, muitas vezes, mas o deleite também vinha duplicado.
Mas agora pense conosco… E os discos triplos?!
Vamos ver um pouco sobre o surgimento dessa ideia, e como ela foi recebida pelo público. E vamos também viajar no tempo e pensar como era ter em mãos essas pequenas, ou grandes, jóias!
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Embora para a maioria dos mortais o tempo extra de um álbum duplo seja suficiente para o mais extravagante dos caprichos, o álbum triplo surgiu como meio de celebrar “o grande evento”, e não uma mera reunião de canções. O primeiro marco dessa presunção típica da década de 70 foi o registro do festival de Woodstock, cuja trilha conquistou disco de ouro em questão de dias.
Um álbum triplo exigia embalagem mais complexa do que as versões menores, por isso os selos precisavam estar seguros de que valia mesmo a pena investir. Os álbuns aos vivo Europe ’72 (1972), do Grateful Dead, Yessongs (1973), do Yes, Wings over America(1976), de Paul McCartney, e The Last Waltz (1978) do The Band, tinham público fiel, então era segura apostar. Em outros casos, as atrações recorriam ao tempo extra para satisfazer o apetite dos fãs – ou seu próprio. Ou ambos, como no caso de Emerson, Lake & Palmer, com seu Welcome Back, My Friends, to the Show that Never Ends… Ladies and Gentlemet, um pacote grandioso do trio de rock progressivo.. A compensação foi um disco de ouro apenas um mês após o lançamento em 1974.
Em 1995, o Smashing Pumpkins, com seu LP Mellon Collie and the Infinite Sadness, evocou as lacunas progressivas, com o líder da banda Billy Corgan sendo comparado a nomes como o Pink Floyd. Mas, felizmente, houve muito cuidado em distinguir o formato vinil de sua encarnação como CD duplo: a lista de músicas foi revista, “Tonite Reprise” e “Infinite Sadness” foram acrescentadas, e a linda embalagem incluiu etiquetas que traçavam o arco do álbum, da “aurora” ao “anoitecer”.
O álbum Sandinista!, do Clash, era uma curiosa mistura de altruísmo e indulgência. “Queríamos fazer valer o dinheiro”, explica o baterista Topper Headon, “e lançar o máximo de material”. Para isso, a banda abriu mão da parte dos direitos e lançou o disco por preço mais acessível. Em contrapartida, permitiu-se colocar mais dub. “Era muito ruim”, reclamou Kurt Cobain.
All Things Must Pass, de George Harrison, foi fruto de um surto de criatividade, embora com resultados mais elogiados. “Eu só podia gravar uma ou duas músicas minhas nos álbuns dos Beatles, então tinha músicas guardadas”, deixou registrado George. No entanto, como relatou a Craig Rosen, da Billiboard, o lançamento de 1970 “era na verdade um álbum duplo. O terceiro disco, chamado Apple Jam, foi pensando como brinde (…) Era só uma Jam session, não propriamente um álbum. ”
Você gosta de ler sobre música, gravações, saber mais sobre os famosos selos e toca-discos que viajam no tempo? Então fique com a dica de leitura: Vinil – A Arte de Fazer Discos.