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Belchior: Um amante latino e unanime das críticas negativas.

Nosso Belch é um cara que carrega uma imensa simbologia latino americana. Hoje, ele arranca lágrimas, saudosismos, causa inspirações, noites de boêmia e de cantos. Mas nem sempre foi assim…

A vida de um jovem cearense que migra para o sul nunca é fácil. A cidade, antes da garoa e agora cinza, é dura com quem vem do norte (e nordeste), por mais que possa parecer encantadora, quem vive de cantar pode acabar dançando na grande babilônia.

“Belchior que, depois de trabalhar se apresentando em igrejas, quadras de esporte, praças públicas e escolas, durante todo o ano de 1975, no interior de São Paulo, está tendo, finalmente, a oportunidade de interpretar as próprias composições em seu primeiro disco individual”.

Essa nota saiu em um jornal de grande circulação há 40 anos, depois do lançamento de Alucinação, o disco que deu Belchior ao mundo – pois o mundo já era dele há tempos.

“19 PMs do 13º Batalhão, seis soldados do patrulhamento tático móvel do 1º BPM, e oito seguranças quase não conseguiram conter ontem a multidão ­ mais de três mil pessoas ­ que tentava invadir o Teatro João Caetano para assistir ao show da dupla Belchior e Simone, na sessão das seis e meia. As filas começaram às 11h30, mas a aglomeração que congestionou todo o trânsito da Praça Tiradentes, atingiu o clímax às 16h30, quando as portas foram do teatro foram baixadas”.

Este registro é de agosto de 1977, ano em que Belch se tornava o nome mais quente da música popular brasileira, e teve músicas suas incluídas no disco da interprete Elis Regina, fato que oficializava sua aprovação por parte da crítica. Dizemos isto pois Belchior nunca foi o mais querido entre a crítica, inclusive, o contrário costumava ser o mais recorrente, dizendo até que ele era unanimidade na crítica negativa. Situação que, ao que parece, não interferia no seu modo de ver e fazer música!

Em meio a década de 70 Belchior lança dois grandes LPs de sucesso: Alucinação e Coração Selvagem. No fim da década, em 78, ele muda. Uma mudança radical da capa à última faixa, nascia o disco Todos os Sentido. Nascia também um Belchior de voz mansa, sensual, temas romântico e flertes com o funk eletrônico das pistas de dança e das anfetaminas. Parece atraente, não? (E é!) Mas na época, o show de seu novo disco não causou boa impressão às críticas, o que foi comentado por ele: “… o artista não cria para adular a crítica ou o público. Faço o que acho necessário fazer… Nunca fiz uma proposta de pureza nordestina, e não consigo ver nas criticas à minha música reconhecimento da características do meu trabalho”.

A nova fase trazia a política do corpo, do vale-tudo sexual movido agora por outras drogas, não mais a maconha e o LSD, mas sim a cocaína, uma onda que embalava as discotecas. Sua nova cara fazia parte do plano de uma gravadora que vinha chegando por aqui, a Warner, injetando muito balando, funk e músicas para dançar.

Para o disco Todos os Sentidos foi convocado o mago dos sintetizadores e dos arranjos, Lincoln Olivetti. Outra participação foi decisiva nesse trabalho, eram As Frenéticas, grupo que vinha dominando as novidades da era Disco.

Para ilustrar, convidar e encerrar esse breve relato de um lado não tão lembrado de Belch, deixamos a música “Corpos Terrestres”, com participação de As Frenéticas. É um funk brasileiro que mergulha na onda p-funk. Uma letra com passagens bíblicas em latim, alternadas com frases em inglês. Uma experimentação necessária e arrebatadora!

but tomorrow is another day anyway

 

 

 

 

 

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