Lançamentos

Universal relança super clássicos em vinil. Confira todos!

Tim Maia (1972)

Lançado em 1972, pelo selo Polydor acompanhado por músicos excepcionais que formariam a banda Black Rio, o artista brasileiro que melhor conseguiu traduzir a soul music norte-americana para a nossa língua e musicalidade seguia firme com sua bem sucedida receita musical. Além das habituais composições em inglês, como ‘My little girl’ e ‘These are my songs’, esta última lançada por Elis Regina no disco ‘Em pleno verão’, de 1969, Tim flerta com o samba em ‘Razão de sambar’, que renderia um saboroso e irresistível fruto no ano seguinte, o samba-soul ‘Réu confesso’. Mas é a dor de cotovelo que se destaca em faixas como ‘Lamento’ e ‘O que me importa’, assinada pelo compositor da Jovem Guarda, Cury, e que Marisa Monte regravaria no ano 2000. Em ‘Sofre’, Tim antecipa o cantor romântico de ‘Mê de motivo’, da dupla Michael Sullivan & Paulo Massadas, que dominou as paradas de sucesso, em 1983, e declama por quase dois minutos as dores de um coração traído antes de soltar o seu inconfundível vozeirão.

Elis & Tom

Um dos melhores discos brasileiros de todos os tempos, ‘Elis & Tom’ surgiu como um presente da Philips em comemoração aos dez anos de contratação da cantora. A união dos titãs se mostraria benéfica para ambos, ela desejando ser prestigiada, após cantar inadvertidamente num evento do Exército em plena ditadura militar, e ele, há alguns anos morando no exterior, vendo na associação a ela um meio de ampliar seu público em solo brasileiro e marcar definitivamente seu nome como compositor da chamada MPB. A princípio, as gravações, ocorridas entre fevereiro e março de 1974, em Los Angeles, EUA, não foram muito harmoniosas, já que Elis encontrou um Tom arredio com a ideia ter suas composições arranjadas no piano elétrico de César Camargo Mariano, então marido da cantora. Tom ainda tentou arregimentar os maestros Claus Orgeman e Davi Grusin para o projeto, mas eles não estavam disponíveis. César foi o arranjador de treze das quatorze faixas, enquanto Tom Jobim assinou o arranjo de ‘Modinha’. O irretocável repertório, composto de clássicos, ganhou o acompanhamento dos grandes músicos Hélio Delmiro (guitarra), Luizão Maia (baixo), Oscar Castro Neves (violão), Paulo Braga (bateria) além do próprio Tom (piano e violão) e César Camargo Mariano (pianos elétrico e acústico). O maestro Bill Hitchcock regeu uma orquestra de cordas em cinco faixas. O clima desanuviou quando Elis soltou sua voz. “Foram momentos vividos por duas pessoas muito tensas, que só conseguem se descontrair através da música”, revela a cantora no texto da contracapa. Essa descontração é confirmada logo na primeira faixa, ‘Águas de março’, um dos duetos mais famosos da música brasileira. Contrapondo faixas de acento bossanovístico, como ‘Triste’, ‘Brigas nunca mais’ e a irresistível ‘Só tinha de ser com você’, a outras mais dramáticas, como ‘Pois é’, ‘O que tinha de ser’ e ‘Soneto de separação’, ‘Elis & Tom’ agradou crítica e público, sendo cultuado até os dias atuais.

Elza Soares – Elza Pede Passagem

O 15º álbum de carreira de Elza Soares foi lançado em 1972 pela gravadora Odeon, cujo acervo atualmente pertence a Universal Music. ‘Elza pede passagem’ marca a volta da cantora ao Brasil, após uma temporada na Europa, onde se manteve longe das polêmicas provocadas pelo seu relacionamento o jogador de futebol Mané Garrincha. O disco reúne compositores de diferentes gerações, como os consagrados Vinicius de Moraes, Luís Reis e Haroldo Barbosa, ao lado dos novatos Gonzaguinha e João Nogueira. A capa, em que Elza aparece com penteado Black Power e calças pantalonas em pose que sugere elegante ginga, dá pistas do que o ouvinte encontrará. O famoso suingue da intérprete é realçado pelos azeitados arranjos assinados pelo instrumentista, compositor e arranjador Dom Salvador, uma das lendas do samba-soul, o que fez este disco ser aclamado pela crítica especializada e se tornar um dos clássicos do gênero. No auge vocal, Elza arrasa nas faixas ‘Cheguendengo’ (Antônio Carlos Pinto/ Jocafi/ Renato Luís Lobo), ‘Saltei de banda’ (Zé Rodrix/ Luiz Carlos Sá) e ‘Pulo, pulo’ (Jorge Ben Jor).

Gal e Caetano Veloso – Domingo

Sem alarde, Gal Costa e Caetano Veloso haviam estreado no mercado fonográfico, em 1965, gravando um compacto cada um, quando João Araújo, diretor da gravadora Philips (Universal Music), decidiu apostar em um álbum com os dois jovens artistas. Dori Caymmi produziu e ainda assinou alguns dos arranjos, ao lado de Francis Hime e Roberto Menescal. Embora a influência bossa-novista seja perceptível na sonoridade e na interpretação de Gal e Caetano, fãs declarados de João Gilberto, o repertório de ‘Domingo’ é assinado por compositores de uma nova geração que difundiu suas composições nos festivais da canção. Reconhecido nacionalmente pelo sucesso de ‘Arrastão’, de 1965, Edu Lobo tem sua ‘Candeias’ eternizada por Gal. São de Gilberto Gil e Torquato Neto, futuros participantes do movimento Tropicalista, as românticas ‘Minha senhora’ e ‘Zabelê’. Torquato ainda rubrica sua primeira parceria com Caetano, ‘Nenhuma dor’. Outro nome que seria identificado com a MPB derivada dos festivais, Sidney Miller é o autor do samba ‘Maria Joana’. As suaves composições iniciais de Caetano, como ‘Avarandado’, parecem sob medida para a voz cristalina de Gal, e ‘Coração vagabundo’, um dos três duetos existentes, torna-se o sucesso do disco, inaugurando uma das mais célebres, férteis e longevas parcerias da música brasileira.

Djavan (1971)

Djavan – Djavan (1978, Odeon). A julgar pela qualidade do trabalho, Djavan não passou pela chamada “síndrome do segundo disco”, que geralmente aparece após um estrondoso sucesso de estreia. Lançado em 1978 pela gravadora Odeon, cujo acervo atualmente pertence a Universal Music, ‘Djavan’ é um disco que atesta a consagração nacional do jovem cantor, compositor e músico alagoano obtida com ‘Flor de lis’ e ‘Fato consumado’, faixas de ‘A voz, o violão e a música de Djavan’, disco de 1976. A diversidade de gêneros e ritmos que viria a ser tão característica na obra do artista já estava presente neste segundo LP. O samba ainda predomina, destacando-se em faixas como ‘Serrado’, ‘Alagoas’ e ‘Samba dobrado’, mas as canções mais introspectivas, como ‘Álibi’ e ‘Dupla traição’, ganham notoriedade. O compositor começou a despertar o interesse de grandes intérpretes da MPB, como Maria Bethânia, que naquele mesmo ano gravou ‘Álibi’ no disco homônimo de retumbante sucesso. Acompanhado por grandes músicos, como Luizão Maia e Paulinho Braga, e por uma orquestra completa, ‘Djavan’ tem arranjos assinados por Eduardo Souto Neto, Dori Caymmi e Gilson Peranzzetta, além do próprio Djavan, já considerado uma nova estrela da MPB.

Garôta de Ipanema – Trilha Sonora

Garota de Ipanema (Trilha sonora, 1967 – Philips). Cinco anos após sua criação, a canção ‘Garota de Ipanema’, icônica parceria de Antônio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, já havia conquistado o mundo, quando o cineasta Leon Hirszman resolveu levar aquele “doce gingado a caminho do mar” para as telas de cinema, em 1967. Com argumento escrito por Vinicius, Eduardo Coutinho e Glauber Rocha, além do próprio Leon, o filme ‘Garota de Ipanema’ apresentou a jovem atriz Márcia Rodrigues e contou com pequenas e especialíssimas participações de Pixinguinha, Nara Leão, Baden Powell, João Saldanha, Ronnie Von e Chico Buarque, entre outros relevantes nomes da cultura brasileira. Lançado pela Philips (Universal Music) no mesmo ano, o LP com a trilha sonora da comédia musical tem direção e arranjos de Eumir Deodato e Luiz Eça. Apresentada como “um painel da moderna música popular brasileira”, conforme o texto da contracapa original, ‘Garota de Ipanema’ baseia-se nas composições de Tom e Vinicius. Além da faixa-título, fazem parte do repertório ‘Ela é carioca’, com o Tamba Trio e ‘Lamento no morro’, com Nara Leão. Enquanto Tom assina as orquestrações, Vinicius interpreta seu ‘Poema dos olhos da amada’, musicado por Paulo Soledade, e assina outras duas raras parcerias: uma com Ary Barroso, em ‘Racho das namoradas’, cantada por Quarteto em Cy e o MPB-4, e outra com Francisco Enóe, em ‘Por você’, gravada pelo “pelo ídolo da juventude”, Ronnie Von. Também é de Vinicius a ‘Ária para se morrer de amor’, interpretada por Baden Powell. Chico Buarque, que já tinha composto canções para o filme ‘Anjo assassino’, de Dionízio Azvedo, em 1966, apresenta a inédita ‘Um chorinho’ e regrava sua marcha-rancho ‘Noite dos mascarados’ em dueto com Elis Regina. Ao ser enviado para os Estados Unidos, o negativo original do filme de Leon Hirszman foi perdido, mas sua trilha sonora, parte do importante acervo da Universal Music está preservada e novamente disponível aos amantes da MPB.

Calabar – O Elogio da Traição

Chico Buarque – Chico canta Calabar (1973, Philips). Em 1973, Chico Buarque viu sua segunda peça teatral, ‘Calabar, o elogio da traição’, ser cancelada às vésperas da estreia. Escrita a quatro mãos com o cineasta Ruy Guerra, a obra relativizava a opção do mulato Domingos Fernandes Calabar, que lutou ao lado dos invasores holandeses contra a coroa portuguesa, entrando para a história oficial brasileira como um traidor. O general Antônio Bandeira, diretor-geral da Polícia Federal na época, proibiu a montagem, interditou o nome Calabar e até mesmo desautorizou a divulgação da censura. Obviamente, o LP com a trilha sonora da peça não escapou do veto autoritário. Sua liberação ocorreu ainda em 1973, mas apenas após mudanças radicais na capa, originalmente dupla, que estampava a foto de um muro pichado com o nome Calabar e passou a ser branca. O título ‘Chico canta Calabar’ também foi trocado para ‘Chico canta’, pois as iniciais CCC lembravam o Comando de Caça aos Comunistas. O disco também sofreu alterações – apenas as versões instrumentais de ‘Vence na vida quem diz sim’ e ‘Ana de Amsterdam’ foram liberadas. Personagem que chega ao Brasil em busca de melhores dias, a holandesa Anna ainda escandalizou os censores uma vez mais, ao explicitar seu amor homossexual por Bárbara, cuja canção ‘Bárbara’ teve a palavra “duas”, do verso “no poço escuro de nós duas” subtraída da gravação. Coautor das composições, Ruy Guerra viu a palavra ‘sífilis’ (uma das “heranças lusitanas”) ser suprimida dos versos declamados por ele em ‘Fado tropical’. Em ambas as faixas, os cortes foram feitos na fita master, por isso permanecem em todas as edições seguintes. Posterior sucesso de Ney Matogrosso, a marcha ‘Não existe pecado ao sul do Equador’ teve os originais “vamos fazer um pecado safado debaixo do meu cobertor” trocados para “vamos fazer um pecado rasgado, suado, a todo vapor”. De volta com sua capa original, ‘Chico canta Calabar’ representa o auge da perseguição sofrida pelo artista durante a ditadura. Como reação, seu disco seguinte, ‘Sinal fechado’, traria apenas composições de outros, ainda que entre Paulinho da Viola e Noel Rosa, aparecesse um certo Julinho da Adelaide. Mas isso já é outra estória…

Maria Bethânia – A tua presença

Maria Bethânia – A tua presença (1971, Philips). Trazendo seu nome completo, Maria Bethânia Viana Telles Veloso, como subtítulo, o disco ‘A tua presença’, marca a estreia da cantora na gravadora Philips (Univesal Music) em 1971. A faixa-título vai além da homenagem à Nossa Senhora Aparecida, como Bethânia revelou mais tarde em entrevista, e ecoa também o ativismo político-social defendido pelo movimento negro no mundo, que vivia seu auge na época: “A tua presença é negra/ É negra, negra, negra”, ressaltam os versos da canção enviada por Caetano Veloso de seu exílio em Londres. A volta do irmão famoso ao solo brasileiro é o desejo explicitado na faixa ‘Mano Caetano’, cantada em dueto com seu compositor, Jorge Ben (Jor). Voz contestadora do regime autoritário desde que despontou, aos 17 anos, no mítico show ‘Opinião’, Bethânia gravou pela primeira vez ‘Rosa dos ventos’, de Chico Buarque, um dos clássicos mais representativos daquele momento em que a música popular brasileira denunciava os desmandos da ditadura. ‘Rosa dos ventos’ também se tornaria um marco da carreira da baiana ao dar nome ao seu cultuado espetáculo dirigido por Fauzi Arap, que estreou no Teatro da Praia, no Rio de Janeiro, gerando um disco ao vivo. Mesmo o então recém-lançado gospel ‘Jesus Cristo’, de Roberto Carlos, ganha ares políticos na contundente versão de Bethânia. A religiosidade tão brasileira da cantora está presente ainda em ‘Dia 4 de dezembro’, do conterrâneo Tião Motorista, faixa que homenageia Iansã, a orixá saudada pelos devotos das religiões afro-brasileiras no mesmo dia dedicado à católica Santa Bárbara. Impecáveis regravações dos sambas-canção ‘Olhe o tempo passando’, de Dolores Duran e Edson Borges, ‘Folha morta’, de Ary Barroso, e ‘Se eu morresse amanhã’, de Antônio Maria, ratificam o lado romântico da cantora, faceta que sempre agradou aos seus fãs e que viria a render seus maiores sucessos radiofônicos. Encerrando o disco, ‘What’s new?’, de Bob Haggart e Johnny Burke, é a primeira e única gravação de Maria Bethânia em inglês. Considerado um dos mais importantes discos da carreira da artista, ‘A tua presença’ está de volta na plataforma de e-commerce da Universal Music.

Lady Zu – A Noite Vai Chegar

Lady Zu – A noite vai chegar (1978, Philips). Feita sob medida para embalar as pistas de dança norte-americanas, a disco music tornou-se uma febre mundial nos idos da década de 1970, inclusive no Brasil, onde o sucesso do filme ‘Os embalos de sábado à noite’ e a popularidade da novela ‘Dancing Days’ ajudaram a divulgar o gênero. Em 1977, o mundo se requebrava ao som dos Bee Gees, Earth, Wind & Fire e Kool & The Gang, quando a música ‘A noite vai chegar’, gravada pela cantora paulistana Zuleide Santos Silva, a Lady Zu, dominou as paradas de sucesso e as pistas das discotecas brasileiras. Incluída na trilha sonora da novela ‘Sem lenço, sem documento’, o hit assinado por Paulinho Camargo foi o passaporte para a cantora gravar seu primeiro LP na gravadora Philips (Universal Music) em 1978. “Neste verão sou sim, sou o sol, sou o céu, sou o soul, eu sou a minha voz”, anunciava Lady Zu na faixa alto-astral assinada por Dom Charles e Nelson Motta. Instantaneamente, ela foi alçada ao posto de diva nacional da disco music. Embora dançante, o inspirado álbum intitulado ‘A noite vai chegar’ apresenta letras românticas em quase sua totalidade, como a faixa ‘Só você (por você, sem você)’, de Paul Greedus e Cleide Dalto, que entrou na trilha sonora da novela ‘Te contei?’, outro sucesso televisivo da época. ‘A noite vai chegar’ é mais uma raridade que a Universal Music traz de volta.

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