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Vinil, sobre qualidade, preços e exploração.

Qual é a forma que você consome a sua música nos dias de hoje? Certamente ouve rádio, MP3 e streaming. Mas se você tem todas essas formas de música praticamente de forma gratuita, por que ouvir, ou melhor, comprar música em vinil? Esta resposta será dada de diversas formas pelas diferentes pessoas que você fizer esta pergunta. Uns dirão que é pela qualidade superior do som, outros concentrarão a sua resposta na arte das capas, outros pelo saudosismo e algumas respostas bem ríspidas de que o “o som é real, apenas isto”.

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Recentemente esta adorada mídia foi redescoberta por uma geração que não acompanharam os seus dias de glória, época em que possuir um determinado álbum em vinil era muitas vezes motivo pra você ser referência em sua cidade ou bairro, por possuir aquelas músicas. Mas esta descoberta teve, tem dois lados, um lado muito bom é que voltou a popularizar a mídia, que leva você encontrar novamente disponíveis em lojas títulos em prensagens novas incríveis, muitas vezes com qualidade sonora até mesmo superior aos Lps originais de época, como é o caso da coleção remasterizada do Led Zeppelin, do Box Mono dos Beatles e até mesmo pérolas que nunca antes tinham sido lançados em vinil, como “O A e o Z” dos Mutantes. O outro lado é que pelo aumento da procura dos Lps e baixa demanda industrial, pois muitas das fábricas possuem um processo praticamente artesanal, o preço aumentou muito! Mas muito mesmo!

Por falar em preço, vamos a uma discussão bastante polêmica acerca deste. Disco de vinil novo nunca foi barato! Quem viveu nos dias em que esta mídia dominava a forma de consumo de música deve lembrar que era item caro, pois sempre foi precificado em torno de 10% do valor de um salário mínimo. Ah! Mas houve sim um tempo em que os preços desabaram, foi ali no final dos anos 90 e início dos anos 2000, quando as mídias digitais eram populares pela sua praticidade de reprodução, que poderia ocorrer em grandes equipamentos hi-fi até pequenos rádios portáteis como os “Discman” e rádios automotivos que abrigavam até 16 CDs! Uma praticidade imensa.

Foi nesta época que o Vinil ficou esquecido, jogado de lado e substituído pelos CDs, aí era todo mundo se desfazendo das bolachas e trocando-as por CDs (nem vou me prolongar pra falar da era inicial do mp3). Era incrível, cheguei a comprar “Dark Side Of the Moon” do Pink Floyd por R$2,00. Sérgio Sampaio, “Eu Quero Botar Meu Bloco na Rua” por R$0,50, e em perfeito estado. Histórias como essas estão recheadas pra quem nunca deixou o vinil de lado. Mas com o “boom” e a “volta do vinil” (não gosto de chamar de volta, porque para alguns como eu, ele nunca deixou de ser a mídia mais apreciada), a procura pelas pérolas aumentou e por consequência o seu preço. Pois é, agora um “Bloco na Rua” de época custa algo em torno de R$300 e uma reprensagem por volta de R$80, os mesmo 10% da época de ouro dos Lps. Um “Dark Side” usado e detonado, será difícil de colocar em sua coleção por menos de R$50, ou um novo, importado, perfeito por algo em torno de R$180.

Mas por que este preço? Por que tão caro? Um dia em um evento de relançamento dos Lps da SonyMusic, o grande colecionador Charles Gavin respondeu uma pergunta sobre os preços elevados e comentou que para a indústria, enquanto não aumentar exponencialmente as vendas, dificilmente as fabricas e selos produzirão estas pérolas com baixo custo, principalmente no Brasil, onde a venda de Lps ainda engatinham, pois aqui, em terras tupiniquins eles ficaram um tempo sem serem produzidos, até o pioneirismo da Polysom de recolocar a sua fábrica em funcionamento novamente.

Para produzir discos novos a Polysom teve que reformar e até mesmo reconstruir equipamentos que estavam sucateados. Confira neste vídeo aqui e verá que a forma de produção é bem artesanal.

 

Mas somos explorados por vendedores? Acredito que não, conhecendo o mercado do disco novo, posso garantir que para discos novos, é impossível trabalhar com preços menores, justamente pela procura, ainda muito pequena no Brasil. Para Lps importados o câmbio, frete e impostos acabam por triplicar o seu preço original de compra em um distribuidor, sem contar que os preços internacionais subiram muito, pois há 5 anos um lançamento custava no máximo 10 dólares com frete para o Brasil, hoje, você não compra por menos de 20 dólares no distribuidor, sem contar o acréscimo do frete e o fator de que o câmbio que aumentou consideravelmente.

E a indústria fonográfica? A indústria fonográfica já explorou muito os bolsos dos adoradores da música, mas lá nos tempos em que não havia outra alternativa a não ser ter o disco ou ouvir no rádio. Hoje com outras opções, a indústria pouco pode explorar, mas não se engane, pois bom lucro há.

Ah e discos usados? Aí é difícil mensurar, pois é questão de garimpo e como colecionador, me recuso a pagar R$700 em um Tim Maia Racional, pois sei que estou eternamente no garimpo, estou procurando, e um dia, em uma oportunidade, encontrarei um preço menor. Como aconteceu de verdade, há um ano atrás, comprei um exemplar por R$150. Garimpo é garimpo. Disco não é só valor de mercado, mas também sentimental. Chegue para quem ama os seus discos e tente comprar um Lp de novela por R$5,00, preço pelo qual são vendidos em sebos, se o cara gostar de seu disco ele não venderá, e se vender, será por um preço bem maior que o do sebo.

E os preços irão desabar novamente? Acredito que não, passamos definitivamente a valorizar essas pérolas.

Qual o preço ideal? O mais barato possível! Mas somos reféns do mercado.

E vale a pena pagar para ouvir música no vinil? E como vale! O som é mais…

Deixa aí o seu comentário!

Por: Luciano R. Bilesky – Colecionador de discos.

4 thoughts on “Vinil, sobre qualidade, preços e exploração.

  • O que acho estranho é que em mercados internacionais, antigos ou relançamentos 180g, os preços ficam na média de 20 usd / euros. As atuais edições do Pink Floyd, lacrados e vindos da Alemanha chegaram em minha casa a R$ 120 com frete. Aqui, nossas lojas on line cobram, por baixo, R$ 250, sem o frete… mais do que o dobro. Desculpe o não nacionalismo, mais continuarei sendo fã da Discogs.

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  • Muito legal o vídeo da fábrica da Polysom – tem vários títulos ali que pretendo adquirir quando voltar a morar no Brasil. Quanto ao preco? Difícil falar. Os vinis usados estao com preco totalmente fora da realidade. Por muitos anos eu nao quis comprar os relancamentos, sempre garimpando para ver se achava alguns títulos que queria, mas hoje desisti. Procuro sempre comprar os relancamentos, mas claro, tomando cuidado para comprar de um selo de qualidade – relancamento de qualidade duvidosa é o que nao falta. Mas, entre pagar 20 euros por uma edicao antiga do Neil Young, ou Miles Davis, ou 50 Euros por um Van der Graaf Generator da década de 70, eu sem dúvida vou e compro o relancamento que sai entre 18 e 30 Euros. E outra, essa história de que só a versao original é a melhor, nao cola. Afinal, a maioria dos albuns da década de 60, 70, 80 sao “reedicoes”. Vários dos relancamentos possuem qualidade de som excelente e você sabe exatamente o que está comprando, sem sustos quando abre o pacote que chega do correio.

    Quanto aos precos dos relancamentos: bom, aqui na Alemanha eu acho um preco muito bom. Diria que a maioria está na faixa entre 15 e 30 Euros; a maioria por ali entre 19 e 21 Euros. Agora, sei que isso nao é a realidade do Brasil. Esses relancamentos de grandes gravadoras sao vendidos para o mundo todo, entao dá para enxugar um pouco a margem de lucro. 20 Euros no Brasil seria uns 70 reais, entao, os precos da Polysom que ficam na faixa de 89 R$ me parece bem honesto. Lógico, pagar algo em torno de 50-60 reais seria o paraíso, mas aí acho que os caras iriam a falência, e a gente nao teria mais vinil.

    PS: a Polysom ainda está prensando algum?

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    • PS2: o Japao é o paraíso para comprar vinis usados. As prensagens japonesas, que geralmente sao boas, sao muito baratas por lá. As prensagens gringas (europeias e americanas) saem mais caras por lá. Mas paguei uma média de 20 reais por prensagens japonesas da discografia do Eric Clapton – todas em perfeitas condicoes e o melhor das prensagens sao as capas duras dos japoneses, lindo demais.

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